com este ocultar das ideologias o mundo estava de volta a vestfália e à política centrada nos estados soberanos. desapareciam as grandes identidades e solidariedades ideológicas para dar lugar, outra vez, aos interesses nacionais. mesmo a versão de identidades ideológicas baseadas na religião e na etnia – a tese de huntington sobre a ‘guerra das civilizações’ – acaba por ceder quando os factores nacionais entram em jogo: como na síria e nos antagonismos no mundo islâmico, entre árabes e não árabes, sunitas e xiitas, laicos e fundamentalistas.
a outra excepção – a europa dos 28 da união europeia – é aparente e sê-lo-á enquanto os estados-membros mantiverem políticas nacionais e quebrem a solidariedade europeia quando os seus interesses nacionais vitais estejam em causa. que é o que tem sucedido, sobretudo com os que podem fazê-lo – os mais poderosos.
sem levarmos em conta isto, não podemos entender a importância que a ameaça de secessão da catalunha significa para espanha. a crise, reacendida depois da manifestação popular independentista de 11 de setembro, dia da catalunha, e da reivindicação de um referendo para 2014, tem ocupado os media espanhóis. isto apesar de preocupações jornalisticamente concorrentes e correctas, como a crise económico-financeira, os escândalos na família real, a corrupção dos políticos ou o caso da ‘guerra’ com a grã-bretanha por causa de gibraltar.
não é para menos. uma separação da catalunha significaria uma grave crise da unidade espanhola, qualquer coisa comparável, embora de outro género, ao fim do império com a guerra de cuba e das filipinas em 1898, à derrota de annual em 1921, ou mesmo à crise que levaria à guerra civil em 1936. embora os tempos sejam outros, um fragmentação deste tipo atingiria profundamente a espanha tal como ela se vê e se sente.
a questão é séria: há um número muito significativo de catalães que não se contentam com a ampla descentralização e autonomia de que gozam no quadro da constituição espanhola e querem ter um estado próprio, soberano. o número cresceu nos últimos 30 anos, devida a uma estratégia separatista discreta dos governos da generalitat de jordi pujol e seus sucessores, a convergência e união, muito eficaz por exemplo quando tornou o catalão a língua veículo do ensino na região, ou quando criou instrumentos financeiros e económicos a pensar na independência.
as últimas notícias referem o acordo entre os dois ramos independentistas – a convergência, de centro-direita, e a erc de esquerda, para realizar o referendo em 2014. em contrapartida o governo do pp, com o apoio crítico do psoe, pensa parar o processo por via legal, no tribunal constitucional, esperando que as divisões entre os independentistas ajudem a adiar ou a evitar a ruptura.
mas a espanha está no fio da navalha.