a modalisboa nasceu em 1991, a partir de um convite do departamento de turismo da câmara municipal de lisboa. nessa altura, eduarda abbondanza e mário matos ribeiro imaginaram um projecto inovador na área da moda, uma espécie de primeira semana da moda em portugal: a modalisboa. apenas um ano depois, em abril de 1992, era, pela primeira vez, dada a oportunidade a jovens estudantes de se juntarem a esta elite da moda, através do concurso de design de moda sangue novo. “a plataforma sangue novo é uma apresentação das ideias e dos trabalhos de um colectivo de jovens designers nacionais, finalistas de cursos de moda, em escolas portuguesas e estrangeiras”, explica eduarda abbondanza.
foi o que aconteceu com maria gambina, que venceu a primeira e a segunda edição do sangue novo, em 1992 e 1993, passando a integrar o calendário oficial da modalisboa. a ela seguiram-se miguel flor, osvaldo martins, susana cabrito, carlos raimundo, marco mesquita, priscila alexandre e lara torres. mas não foram só estes. durante nove edições foram estabelecidas parcerias de renome que permitiram aos vencedores estagiarem nos mais prestigiados ateliês do mundo, como perclers, alexander mcqueen, felipe oliveira baptista, clements ribeiro e robert cary-williams. outros, que não chegaram a vencer, começaram aqui a trilhar o seu caminho profissional, como katty xiomara, nuno baltazar, sara lamúrias, joão branco e luís sanchez (mais conhecidos como storytailors) e ricardo dourado. dali saiu a maioria dos nomes que hoje dão cartas na moda nacional.
a última edição aconteceu precisamente há dez anos, em outubro de 2003, e distinguiu lara torres como vencedora. depois, subitamente, tudo terminou. “foi uma iniciativa que teve um sucesso estrondoso e que lançou para o mundo nomes vencedores. interrompemos o concurso quando percebemos que em portugal o sucesso do sangue novo tinha originado muitos concursos do mesmo género”. é o caso do bloom, plataforma ligada ao portugal fashion, e coordenada por miguel flor.
foram necessários dez anos para ver regressar a plataforma que, para muitos, foi o reflexo mais pujante da moda nacional. durante anos, eduarda abbondanza, directora da modalisboa, foi sendo bombardeada com a pergunta: ‘para quando o regresso do sangue novo?’. a resposta, enigmática e encriptada, era acima de tudo uma incógnita. o orçamento reduzia edição após edição, o mercado estrangulava. parecia irreal convidar jovens a entrarem na estrutura e, desta forma, alimentar os seus sonhos, quando alguns veteranos – como josé antónio tenente e maria gambina – se afastavam. que futuro seria possível oferecer a estes jovens acabados de sair das universidades? esta parecia ser a grande questão.
quando surgiu a notícia de que o sangue novo regressaria nesta 41.ª edição da modalisboa parecia difícil de acreditar. ainda mais olhando para o actual cenário de crise profunda que o país atravessa. mas aquilo que começou por ser rumor, adensou-se. e surgiu a confirmação: 2013 era o ano do regresso do sangue novo. dez anos depois. “agora decidimos trazer de volta esta plataforma de apresentação de designers emergentes, com um novo formato, porque é o momento de voltar a trabalhar de forma eficaz esta área. é uma aposta convicta e apaixonada no futuro da indústria da moda em portugal e no talento dos seus mais jovens designers”, conta abbondanza.
20|25, catarina ferreira, catarina oliveira, cláudia mendes, filipa gomes, hibu, joaquim correia, olga noronha, renata bernardo e sofia macedo serão os protagonistas deste regresso do sangue novo. chegam de escolas e universidades de moda um pouco por todo o país, de lisboa ao porto, passando pela covilhã, castelo branco e até de londres. têm-se habituado a concorrer a várias plataformas e alguns trazem na bagagem prémios de concursos em portugal, itália e inglaterra. alguns já criaram os seus pequenos negócios, em muito graças a fenómenos como o facebook. à passerelle vão levar o seu olhar sobre a moda: uns mais ligados à cena urbana e ao sportswear e streetwear, outros preferiram ir beber influências à paisagem natural da serra da estrela, e outros ainda mostram trabalhos na área da joalharia. trazem um necessário espírito de renovação à moda portuguesa, mas fazem-no com os olhos postos lá fora, porque as fronteiras são cada vez mais ténues.
este regresso do sangue novo faz-se, no entanto, sem a componente competitiva. “será uma apresentação, uma oportunidade para mostrar o seu trabalho, expor tendências e marcar pela primeira vez posição artística no evento mais importante da indústria de moda nacional. o nosso maior contributo passa por apoiar o seu desenvolvimento através de uma forte divulgação no mercado nacional e internacional e dessa forma criar e potenciar várias oportunidades de desenvolvimento”, diz eduarda abbondanza sem, no entanto, pôr de parte a hipótese do regresso da componente competitiva.
assim, 13 designers – oito em nome individual, uma dupla e uma tripla – apresentaram sexta-feira as suas colecções cápsula para a primavera/ verão 2014, no hall dos paços do concelho. fizeram-no com uma promessa no ar, deixada pela organização: “se reunirem as condições necessárias podem vir a integrar a plataforma lab numa próxima edição”.
e fizeram-no ali, ao lado, dos crescidos. eles, os jovens, trouxeram, tal como nome indica, sangue novo à passerelle da modalisboa. porque como o tema sugere, ever.now. ou como canta roisin murphy, para os moloko: ‘the time is now’. este foi o momento deles.
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