“quando cheguei não tinha ideia nenhuma da china. vim completamente virgem, mesmo à procura do choque cultural”, contou o escritor à agência lusa.
situada na foz do yangtze, xangai é a maior e mais cosmopolita cidade chinesa, com cerca de 23 milhões de habitantes.
joão tordo chegou no final de agosto, no âmbito do programa de “residências literárias” lançado em 2008 pela associação de escritores de xangai e que reuniu este ano oito autores de outros tantos países, do méxico à austrália.
o autor de “as três vidas”, o romance que proporcionou a joão tordo o prémio josé saramago, em 2009, foi o primeiro escritor português convidado.
nos contactos com escritores chineses, tordo constata “uma grande curiosidade acerca do ocidente”, mas não propriamente um desejo de “ocidentalização”: “não me parece que xangai queira ser como hong kong”.
o escritor português descobriu também “semelhanças incríveis”.
referindo-se a chen cun, autor de um romance já traduzido em inglês (“the elephant”), salientou: “é um escritor que podia ter nascido ao meu lado. gostamos dos mesmos autores e abordamos a literatura da mesma maneira”.
“por causa do nobel”, portugal é logo associado a saramago, mas fora dos círculos intelectuais, cristiano ronaldo é o nome mais conhecido: “à saída do meu prédio, há um placard com a cara do ronaldo a fazer publicidade de um champô”, contou.
durante a “residência literária” em xangai, que decorre até ao fim de outubro, tordo tem também trabalhado num novo romance, o sétimo, que deverá ser publicado na próxima primavera.
“passa-se na galiza, vai a londres e ao canadá, e volta a lisboa”, adiantou. “viajar, para mim, é fundamental. os protagonistas dos meus romances também estão sempre a viajar e a partir”.
viajar faz parte do seu processo criativo (“preciso de conhecer um lugar para poder escrever sobre ele”, diz), mas é mais do que isso: “o escritor é um viajante. e se quer vender livros, tem que estar numa tournée constante”.
joão tordo, nascido em 1975, faz também traduções, ensina escrita criativa e escreve guiões para televisão. as vendas de livros já representam, contudo, metade dos seus rendimentos: “antes dos 40 anos, já não é mau!”.
“o livro dos homens sem luz” (2004) foi o seu primeiro romance. o mais recente, “o ano sabático”, saiu em fevereiro passado.
e xangai? também irá entrar um dia na geografia literária de joão tordo? “só escrevo sobre os sítios depois de já não estar lá”, responde. entretanto, vai “tomando notas e, sobretudo, observando”.
“uma coisa que me faz confusão, aqui, é a obsessão com os telemóveis”, realçou. “já estive em muitos sítios e nunca vi nada assim. no metro ou na rua, as pessoas estão sempre a mandar mensagens”.
a china é o maior mercado mundial de smartphones, estimando-se em 26,6 milhões a média de aparelhos vendidos mensalmente no país: “até nos bares e restaurantes, há grupos de quatro ou cinco pessoas todas agarradas ao telemóvel. parece que é difícil estar com outras pessoas sem ser através do telemóvel”.
de resto, joão tordo considera que “xangai é uma cidade magnífica”.
“arrependo-me de não ter vindo mais cedo à ásia”, acrescenta.
lusa/sol