Dito&Feito

A única interrupção de um Conselho de Ministros que se arrastou por 17 longas horas foi para Paulo Portas explicar uma medida que omitira uma semana antes – o corte nas pensões de sobrevivência – quando anunciou que não avançaria a ‘TSU dos pensionistas’.

medida da qual se soube através de uma «fuga de informação irresponsável», nas palavras de portas, e que punha em causa a transparência das suas comunicações e a lisura dos seus processos. o problema não era da informação em si, mas da fuga da dita informação, que trouxe comprometedoramente a público o que fora omitido.

portas viu aí a oportunidade para fazer reverter a situação a seu favor e levar a cabo um dos seus típicos ‘números’ de política mediática. aproveitou, pois, para dar a boa notícia de que só 25 mil dos 800 mil abrangidos com a pensão de sobrevivência iriam ser afectados e verberar os mal intencionados que «quiseram assustar e alarmar os idosos». a seu lado, sem proferirem uma palavra, sentavam-se maria luís albuquerque e mota soares.

ora, esta encenação política é bem o espelho do estado a que chegaram o governo e a coligação. porque, num orçamento para 2014 que retira mais 3.900 milhões de euros aos bolsos dos portugueses e que corta 3.200 milhões na despesa do estado, a única comunicação que mereceu uma paragem no conselho de ministros diz respeito a um corte de… 100 milhões – 32 vezes menos importante do que o total do enorme aperto que funcionários públicos e reformados, em particular, vão sentir na pele em 2014.

portas soube fazer da questão marginal das pensões de sobrevivência ‘o caso’ do orçamento. deixando sem referência os novos e violentos cortes nos salários, a redução das pensões da cga e outras nas despesas com pessoal e prestações sociais – que representam 2,2 mil milhões na consolidação orçamental. bem mais do que ‘o caso’ dos 100 milhões.

passos coelho e o conselho de ministros deixaram portas levar à cena, mais uma vez, o seu ‘número’ de arauto das boas notícias. à ministra maria luís albuquerque coube o papel de dar as más notícias e a cara pelo orçamento mais difícil dos últimos anos. o país tem um governo ou dois governos?

jal@sol.pt