Os gasparistas sem Gaspar

As cópias nunca chegam à perfeição dos originais. Daí temer o pior quando vejo prevalecer, na política nacional, o gasparismo sem Gaspar. Imagina-se que a crise só acaba mesmo, se acabar primeiro na Europa, como prevê igualmente desiludido o Presidente Cavaco.

numa entrevista ao dn de domingo, o insuspeito bagão félix analisava como os milhões de austeridade impostos a portugal só tinham feito aumentar a dívida pública – que se pretende conter. certamente este desespero de uma politica que tem a perversidade de provocar os objectivos contrários aos pretendidos contribuiu para gaspar abandonar o barco. o drama é manterem-se os gasparinhos no seu lugar, agora com o cds mais agarrado (mesmo que deixe cair notícias de que o está apenas por lealdade, e não concordando com as soluções adoptadas).

o que me deixa mais perplexo é encontrar alguns jornalistas, não apenas apoiantes deste gasparismo sem autor, mas histéricos no seu apoio. têm todo o direito de pensarem o que quiserem, mas não deviam escrever sobre o assunto, ou então ganhamos todos em que sejam menos exageradamente militantes.

como já dizia orwell, a liberdade do intelecto é incompatível com excessivos compromissos políticos.

claro que eu não deixo de ter algum compromisso, mas penso não ser excessivo. é que não estou apenas contra o gasparismo, por ele falhar nos objectivos. essa é mais uma razão para estar contra. mas mesmo que os objectivos fossem atingidos, e assim essa linha política mais justificada, continuaria a estar contra ela – como cristão e católico, que não aceita trabalhadores ao serviço da economia, mas que pugna por uma economia ao serviço dos homens.