Associação cultural dá a mão a emigrantes portugueses em Berlim

Sem falar alemão, sem dinheiro e com uma filha nos braços, uma mulher saiu de Portugal num autocarro e só parou em Berlim, vagueando nas ruas em desespero até que foi encontrada por um emigrante brasileiro.

o caso ocorreu em abril e chegou ao conhecimento da associação portuguesa berlinda através de um emigrante brasileiro que lá levou mulher e filha, depois de ter reparado no choro e nos lamentos, em língua portuguesa, numa rua da capital alemã.

“não há dia em que não se receba na associação, um pedido de ajuda ou de informação de um português em apuros ou manifestando desconhecimento da realidade na alemanha”, disse à agência lusa inês thomas de almeida a directora da berlinda, instalada no bairro berlinense de pankow.

o caso da mulher, que a associação acabou por ajudar a regressar a portugal, é um exemplo de um fenómeno de “emigração desinformada” de portugueses e de cidadãos oriundos de outros países de língua portuguesa, segundo inês thomas de almeida.

na alemanha vivem e trabalham cerca de 120 mil portugueses, concentrados mais significativamente nas cidades de hamburgo, estugarda e dusseldorf, de acordo com dados da embaixada portuguesa em berlim, que estima ainda um aumento de emigrantes nacionais em oito a 10 mil pessoas no último ano.

“há pessoas que nos contactam e perguntam: ‘quantos dias demora até ter emprego?’”, relatou, salientando que os voluntários da berlinda procuram refrear as expectativas e dar aos potenciais emigrantes uma ideia mais realista do que os espera.

longe de ser um “eldorado”, a alemanha é um país onde há oportunidades, mas onde “o maior obstáculo é a língua”, indicou, essencial para conseguir chegar a algum lado em termos profissionais.

a berlinda, com morada electrónica em www.berlinda.org, começou por ser uma associação de divulgação cultural para tudo o que diz respeito às artes em língua portuguesa na alemanha.

é uma vertente que continua: no dia 06 de novembro vai começar mais uma edição das “noites da berlinda”, um programa bimensal de divulgação cultural.

inês thomas de almeida garantiu que “há um interesse muito grande pela cultura em língua portuguesa” e que é “um luxo” poder descobrir o espaço comum de artistas de portugal, áfrica, brasil ou timor-leste.

em 2012 a associação organizou durante um mês um programa de iniciativas que lhe deu mais visibilidade e a pôs no mapa para quem fala português e procura vida melhor na alemanha.

“começámos a receber ‘e-mails’, telefonemas, de pessoas com problemas, imensa gente, uma quantidade de portugueses a precisar de ajuda”, contou, salientando que encontram “situações dramáticas”, muitas provocadas pela ignorância pura e simples sobre como se vive na alemanha.

a página da berlinda na internet continua a anunciar a associação principalmente como um “magazine cultural”, mas em destaque surge uma ligação a vermelho que remete para a “acção social”.

aí, procurou-se criar um guia, o mais completo possível, para toda gente que fala português e procura a alemanha: cursos de alemão, informações sobre procura de emprego, sistema de saúde e habitação, por exemplo.

além disso, a berlinda ajuda os emigrantes lusófonos pondo-os em contacto com voluntários que se oferecem para ser tradutores em idas ao médico ou contactos com a administração alemã, por exemplo.

a página da associação recebe dezenas de milhares de consultas todos os meses e praticamente todos os dias há alguém que procura ajuda pessoalmente, algumas com receio das vias oficiais por se encontrarem em situação precária, conta inês thomas de almeida.

mudar de vida é algo com que inês thomas almeida se pode identificar: nasceu na república dominicana, cresceu em lisboa, estudou canto lírico na prestigiada escola superior de música e teatro de rostock, no nordeste da alemanha, e cantou em palcos pela europa, decidindo fixar-se em berlim e privilegiar a família.