face aos crescentes sinais de incompreensão internacional, do eurogrupo à moody’s, pelas decisões do tc que têm complicado o programa de ajustamento português, a esquerda nacional ergueu-se em coro indignado, qualificando esses alertas como de «uma gravidade extrema», quase um crime de lesa-pátria.
jorge sampaio, por exemplo, veio verberar, num «assomo patriótico», as declarações de durão barroso e christine lagarde sobre o tc e concluir que nenhum deles seria capaz de dizer o mesmo «sobre o equivalente ao tc em frança ou na alemanha». ora, o tc da alemanha, recorde-se, já foi acusado publicamente, incluindo em portugal, por «bloquear a ratificação do tratado de lisboa», por «desafiar o bce» e fazer «aumentar o risco de bancarrotas» na zona euro, sem esquecer os impropérios que lhe dirigiram quando proibiu os crucifixos nas salas de aula. como se vê, a memória é curta e patrioticamente selectiva.
outro argumento curioso é o das «intoleráveis pressões sobre os juízes do tc». catarina martins e joão semedo podem afirmar que este «é um oe que se derrota no tc». jerónimo de sousa pode assegurar que o tc irá evitar «os cortes brutais nas pensões». a cgtp pode falar do «acórdão contraditório» do tc sobre os cortes nos subsídios. e seguro pode estipular que «há um consenso generalizado sobre normas inconstitucionais no oe para 2014». ao que parece, nada disto são pressões ou condicionamentos às decisões dos juízes do tc. só o são quando se sugere que estes fazem interpretações restritivas ou corporativas da constituição – aí sim, passam a ser pressões intoleráveis.
como dizia esta semana o conselheiro de estado vítor bento, «o tc faz parte da classe política, não tenhamos ilusões a esse respeito. não é uma classe de sacerdotes que vive num templo fora do mundo dos humanos». ainda que seja precisamente isso que a nossa esquerda quer fazer deles: sacerdotes intocáveis de causas perdidas.
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