a seiva trupe, que comemorou 40 anos em setembro, está instalada desde 2000 no campo alegre, edifício da cmp, através de um contrato que vigora até ao final de 2014. segundo a autarquia, em março de 2011, a dívida da companhia era de 121 mil euros mais juros, tendo sido renegociada para apenas 50 mil euros, a pagar em 36 prestações mensais. a partir de novembro de 2012, a autarquia garante terem-se começado a verificar atrasos, que redundaram numa “desocupação coerciva”, apesar da seiva trupe se encontrar no âmbito de um processo especial de revitalização.
júlio cardoso – que não se quis pronunciar sobre “termos jurídicos” – confirma a existência de verbas em dívida, mas garante que também a cmp não tem cumprido com o contratualizado: “as coisas não são tão lineares e temos razões para também accionar judicialmente a câmara. vamos tentar resistir”. o director artístico admitiu ainda, na quarta-feira, que não existem, por agora, contactos com o executivo de rui moreira, que tomou posse na véspera.
o edil apenas planeia pronunciar-se sobre a questão depois de conhecer em detalhe as questões jurídicas envolvidas, tendo o sol sido remetido para a sua entrevista à sic, na segunda-feira passada: “pelo que se sabe tinha havido uma renegociação e depois a seiva trupe deixou de pagar a renda. tenho muito apreço pelo seu papel como companhia de teatro e sei bem as dificuldades que vivem. é uma marca importante, como muitas outras na cidade, queria que conseguissem fazer mais e sei que podem fazer mais”.
rui moreira deixou a porta aberta à companhia para apresentar projectos no rivoli – que deverá ter um programador escolhido mediante concurso público, voltando ao modelo anterior aos mandatos de rui rio – e no teatro do campo alegre, sugerindo por isso que a seiva trupe não voltará ao estatuto de residente. júlio cardoso aguarda uma proposta para depois a “analisar”.
sobreviver com poucos apoios
os problemas financeiros da seiva trupe – júlio cardoso adianta que a companhia perdeu 80 por cento dos subsídios concedidos pela direcção-geral das artes – estendem-se ao restante tecido teatral da cidade. além dos cortes nos apoios a nível nacional, o executivo liderado por rui rio, eleito em 2001, praticamente extinguiu o suporte que era dado às pequenas companhias de teatro da cidade e entregou o rivoli a filipe la féria, entre 2006 e 2010. desde então, o teatro municipal limitou-se a esporádicos acolhimentos e deixou de suportar um projecto artístico autónomo.
a reabertura do rivoli é considerada “fundamental” por nuno carinhas e ana luena, directores artísticos do teatro nacional são joão (tnsj) e do teatro bruto, uma das pequenas companhias independentes que suportam o tecido teatral portuense. o tnsj (que tem ainda a seu cargo o teatro carlos alberto e o mosteiro de são bento da vitória) é o ‘gigante’ que acolhe muitas vezes, em co-produções, algumas destas instituições, geralmente constituídas por jovens formados numa das três escolas da cidade: a pública escola superior de música, artes e espectáculo (esmae) e as privadas balleteatro e academia contemporânea do espectáculo.
apesar das dificuldades, nuno carinhas recusa uma visão pessimista: “o tnsj tem vindo a crescer em termos de público e temos muitos jovens. há imensas pessoas de outras partes do país que vêm estudar para as escolas do porto. há dificuldade em encontrar lugares para apresentações, mas surgiram aqui estruturas privadas como a assédio, o ensemble e as boas raparigas”.
por seu turno, ana luena justifica a força da iniciativa privada pelo facto de a cidade não ter “televisão nem publicidade”: “é difícil ser freelancer aqui. somos uma cidade de projectos, os criadores têm de se juntar para sobreviver”. por outro lado, muitos destes grupos não têm a “visibilidade na comunicação social e circulação” dos congéneres de lisboa. mas há casos positivos, como o do próprio teatro bruto: “há que sobreviver para além dos apoios do estado central. pelo menos há dez anos que temos trabalhos uns a seguir aos outros e vivemos das receitas de bilheteira”.