Bárbara

Bárbara Guimarães apresentou uma queixa por violência doméstica contra o marido, Manuel Maria Carrilho.

a notícia apanhou toda a gente de surpresa e provocou uma primeira onda de reacções muitíssimo desagradáveis. culpar a queixosa foi a reacção de muitos, o que constitui mais um motivo para o número reduzido de queixas por violência doméstica. o dedo é imediatamente apontado a quem faz a queixa. noutras reacções houve a tentativa de introduzir uma distinção falsa e cobarde entre vida privada e vida pública. a queixa e o crime são públicos. bárbara guimarães ser uma figura pública torna-a um alvo apetecido por certa imprensa, mas interessantemente é esta exposição que também a protege. podemos falar sobre o tema, que é grave e partilhado por milhares de mulheres. alguém abusar física e psicologicamente de outra pessoa é um assunto que diz respeito a todos. não é por ser figura pública que não é real. a mulher é belíssima mas é apenas uma mulher.

sobre os partidos

agora que ficámos a saber que o país deita lágrimas por uma entidade abstracta como a troika, mas fica muito aflito quando se depara com um problema com pessoas em concreto, falemos de mais um assunto que diz respeito a todos. manuel maria carrilho foi ministro da cultura nos governos de antónio guterres. foi nomeado representante permanente na unesco no governo de sócrates, que um ano depois o afastaria do cargo. foi deputado e vice-presidente do grupo parlamentar do ps. chega aos 62 anos a ligar para os jornais para difamar em entrevistas a mulher e a família dela. a menos que lhe tenha acontecido algum fenómeno, como ser raptado por marcianos e cuspido de volta, para nossa grande tristeza, ao planeta terra, carrilho não terá mudado mais do que qualquer outra pessoa muda na vida. como foi possível que tenha chegado a exercer cargos públicos tão importantes? a reflexão séria sobre a responsabilidade dos dirigentes partidários está por fazer.

anarcocómico

numa entrevista a jeremy paxman, o actor e comediante britânico russell brand fez uma quase defesa da anarquia na televisão (www.youtube.com/watch?v=xgxfj5nl9gg). o seu discurso é articulado, inteligente. brand tem uma agressividade com graça, que por norma se entende ser a marca clássica de um palerma. talvez seja, mas, como sabemos, palermas há muitos, e ao menos brand é rápido nas respostas, claro nas suas opiniões, além de hábil a orientar a entrevista para o que lhe interessa. e os aspectos que lhe interessam são a destruição do planeta, a enorme disparidade de riqueza no mundo e a exploração das pessoas. a resposta que russell brand dá para solucionar problemas tão complexos é, infelizmente, ingénua. mas o seu apelo a uma revolução que se baseia na completa falta de esperança e descrença num sistema que cada vez afasta mais as pessoas das urnas não é nada que muitos não desejem. antes que chegue o momento, há que encontrar melhores soluções.

um traidor

a menos que sejam divertidas ou literárias, não me interessam por aí além descrições do casamento. haverá uma ou outra excepção, mas na maior parte dos casos, quem fala do casamento em geral está a falar do casamento em particular; ou seja, do seu. noto que parece haver uma enorme preocupação da parte de quem descreve responder à pergunta sobre quem manda aqui. ora, essa pergunta é inútil, porque realmente num casamento não há ninguém a mandar. não há homens a liderar as tropas e mulheres a seguir. não há uma hierarquia. são duas pessoas que se aliam e decidem fazer um caminho juntos. e tomam esta decisão, porque além da paixão e do amor que os une, são amigas. e são amigas porque são almas parecidas, complementares, como queiram. as diferenças de um são aceites e bem recebidas pelo outro. por isso, só há uma palavra para descrever o marido que tenta destruir a sua mulher. é um traidor. um traidor à sua maior aliada. um traidor à promessa que lhe fez.

ondas nazarenas

a vida na nazaré mudou por causa do norte-americano garrett mcnamara, que trouxe notoriedade à terra por causa da onda gigante que surfou na praia do norte. a praia do norte é um dos sítios mais assustadores da zona e mesmo no verão, com o mar de aparência tranquila, não se recomenda. por vezes formam-se umas lagoas na praia que permitem aos banhistas a experiência de molhar o pé. fora isso, a praia do norte é perfeita para contemplar de cima, do farol. um destes dias, passeava por ali quando me perguntaram: «está a dar o macnamara?». não percebi bem a pergunta, mas pensei que talvez houvesse actividade surfista na praia. «a dar como na televisão?», perguntei. era isso. quase diariamente há uma tentativa de surfar as ondas perigosas da praia do norte e os amigos avisam que o programa começou. não há aquela opção para ‘ver do início’, mas não faz mal. só fará se mcnamara bater o recorde outra vez e ninguém me avisar que já tinha começado.