Dito&Feito

António José Seguro é um caso singular de incapacidade de afirmação de uma liderança partidária. Pode vencer Congressos, pode triunfar em autárquicas – nada disso parece bastante para aumentar a sua credibilidade e elevar a sua imagem a um patamar superior de aceitação e autoridade.

a nível interno do ps, seguro transmite a desconfortável sensação de ser um líder acossado pelos sectores críticos e intranquilo face ao peso político e mediático de alguns barões socialistas.

ao fazer notada a sua ausência, em dias seguidos, no lançamento do livro de sócrates e na posse de antónio costa na câmara de lisboa, seguro deixou passar a ideia de ser um secretário-geral encurralado a um canto do partido.

deveria ter assumido, de forma clara e descomplexada, a sua não comparência no beija-mão encenado pela ala socratista. e não poderia ter deixado de marcar presença, mesmo que passageira, na posse que assinalava a mais emblemática e concludente vitória do ps nas eleições de 29 de setembro: a maioria absoluta em lisboa. as suas silenciosas ausências revelam um temor e uma insegurança que só o diminuem aos olhos do partido.

a nível externo e do país, seguro continua a rejeitar as políticas decorrentes do programa de resgate que o ps de sócrates assinou com a troika.

e a recusar toda e qualquer medida de redução da despesa do estado que os portugueses sabem, a começar por ele próprio, que teria que aplicar logo no primeiro dia em que chegasse à chefia do governo.

essa dissimulação calculista – como agora se viu com a confusão deliberada que quis fazer entre um programa cautelar e um segundo resgate – impede que o país confie nele e o veja como possível primeiro-ministro, com a coragem política de falar verdade e tomar decisões difíceis.

a29 de setembro, o ps venceu as autárquicas com um número histórico de 150 presidências de câmaras, mais 44 do que o psd, que ficou bem atrás. passado apenas um mês parece ter-se desvanecido já o efeito político dessa vitória socialista.

e ter-se rapidamente evaporado o reforço de poder que esse triunfo eleitoral trouxe à inconsistente liderança de antónio josé seguro. não deixa de ser revelador.

jal@sol.pt