a entrevista estava prestes a terminar quando rita camarneiro diz com o ar mais sério deste mundo: “gostaria também de ser tratadora de macacos”. isto pode parecer bizarro vindo de qualquer outra pessoa mas não é de estranhar nesta rapariga de 25 anos, cuja personalidade extrovertida, regada com uma boa dose de ironia e ‘macacadas’, parece camuflar uma discreta timidez.
nascida na figueira da foz, onde viveu com o pai e os dois irmãos, os seus sonhos de infância não passavam pela televisão, mas a escolha do seu percurso tem ‘um dedo’ dos irmãos: nuno camarneiro, escritor e vencedor do prémio leya, em 2012, e marco mendes, artista de banda desenhada. “tenho 10 e 11 anos de diferença dos meus irmãos, portanto, desde pequena que os oiço a desconstruirem os mitos que existem à volta da infância. era tudo muito real, eles têm muito sentido de humor e foram uma boa influência para mim, em termos musicais, culturais e de entretenimento”.
aos 18 anos, mudou-se para coimbra para estudar psicologia: “acho que a mente humana é das coisas mais interessantes. e gostava de exercer, de ajudar as pessoas”. mas já então a sua paixão pelos palcos começava a ganhar forma. inscreveu-se no grupo de teatro da universidade e, no 3.º ano, fez um curso de stand up comedy da bank produções, em lisboa – “consumia muita comédia. gostava muito de seinfeld, curb your enthusiasm, comecei a ver muito stand up e fiquei apaixonada por aquilo”. a sua primeira participação em televisão veio depois desta formação, numa rubrica do programa da rtp1 (na altura, rtp2) 5 para a meia-noite, speed battle: “tínhamos que mostrar o nosso talento num minuto e o produtor da bank produções telefonou-me a perguntar se eu queria lá ir e disse que sim. aquilo era por votações, fui ganhando várias vezes e, entretanto, convidaram-me para estagiar lá como guionista. comecei a escrever para a filomena cautela, depois no fim da temporada fui para a equipa do boinas e depois para a equipa da luísa barbosa”.
com o final da temporada, candidatou-se a um estágio na academia rtp, onde durante um ano esteve a trabalhar num filme como guionista e actriz mas, com o final desta formação, em dezembro de 2012, esteve vários meses sem emprego: “foi horrível, quando acabou a academia fartei-me de enviar currículos. devo ter enviado uns 50 para tudo … para produção, repórter, actriz, e acho que ninguém viu. estive no porto até março, a ‘bater mal’. depois decidi vir para lisboa” e, já na capital, as portas começaram a abrir-se.
foi trabalhar para a speaky.tv, um projecto online do apresentador fernando alvim, onde começou em part-time a “fazer um pouco de tudo” e neste momento, apresenta o programa ilustre engraçadinho. cerca de um mês depois, foi convidada a fazer um casting como co-apresentadora de um programa sobre internet e redes sociais. ao fim de dois castings – e um deles, em que contracenou com rui unas – foi seleccionada para o programa anti social: “nessa altura, ia ter um test drive para ser guia turística de um tuktuk [um triciclo motorizado que passeia os turistas por lisboa] mas acabei por não ir”.
este talk show da sic radical começa com um monólogo dos dois apresentadores, baseado nos comentários que os utilizadores da internet e das redes sociais fazem às notícias nacionais e internacionais, passando depois para uma entrevista a dois convidados. aos poucos, rita camarneiro tem-se vindo a tornar numa cara conhecida dos portugueses, ainda que este reconhecimento nem sempre se traduza em algo positivo: “já ouvi de tudo. no início, recebi críticas muito más. há pessoas que ofendem mesmo, com a ideia de que sou uma miúda que não tem nada na cabeça”. rita justifica estas atitudes com o facto de existir “ainda muito preconceito com uma rapariga que faça comédia ou que faça televisão”. “fico um bocado triste porque não sou assim e acho triste as pessoas serem tão más sem me conhecerem”.
este lado mais frágil, porém, não transparece na sua personalidade jovial quando está no ar. “quando estamos à frente das câmaras, temos de nos esquecer dos problemas que temos. às vezes, há dias em que me sinto menos confiante do que outros mas temos sempre que pôr uma capa”. apesar de confessar que fica nervosa minutos antes de entrar no ar – “estou sempre a autocriticar-me e analisar-me, sou muito exigente comigo” –, a apresentadora de 25 anos prefere o trabalho em estúdio do que os bastidores dos programas: “gosto mais de estar à frente, dá-me ‘pica’. na verdade, quando estamos no backstage e depois estamos à frente das câmaras é mais fácil”.
apesar de estar a cumprir um sonho como apresentadora do anti social – “quando soube até chorei de emoção” –, este é apenas um dos seus grandes objectivos. outra das suas aspirações é escrever uma sitcom, onde possa também dar uso aos seus dotes de actriz que, aliás, serão visíveis no próximo ano, uma vez que começa já em novembro a gravar um filme. “é uma comédia romântica com o raminhos, o marco horácio e o eduardo madeira. vou fazer de par romântico do marco horácio”.
mas estes não são os únicos sonhos de rita. é que, para além do fascínio por macacos, esta rapariga de 25 anos acredita que tem “um super poder”. “consigo distinguir vários tipos de cheiros e as pessoas têm cheiros diferentes. gostava de, um dia como part-time, estar durante um ou dois meses a fazer perfumes, enquanto fazia estas coisas”. com tanta versatilidade, o melhor mesmo é ficarmos atentos aos próximos episódios.