na mesma semana em que responsáveis da ce e do banco central europeu (bce) admitiram ao parlamento europeu ter subestimado os efeitos da austeridade nos resgates da zona euro – e em que o banco central antecipou o corte de juros para 0,25% para estimular a economia e combater riscos de deflação – bruxelas acredita que, em 2015, irlanda, grécia e portugal vão crescer acima da média europeia e registar défices abaixo de 3%.
o optimismo de bruxelas com o desempenho dos três resgatados da troika em 2015 foi uma das principais surpresas das previsões económicas divulgadas esta semana. para 2014, a ce espera menos crescimento e mais desemprego na zona euro que há seis meses. a comissão refere que o mercado interno será o grande motor do crescimento até 2015, mas os dados mais recentes apontam o contrário: as vendas a retalho e as encomendas à indústria voltaram a cair em setembro na europa e são um sinal de que a retoma pode estar a perder fôlego.
a recuperação europeia está a ser minada sobretudo pelos receios de uma espiral de deflação na zona euro e pela falta de eficácia da política monetária do bce. frankfurt concedeu milhares de milhões de euros aos bancos, mas o crédito continua caro e inacessível para a maioria das empresas, enquanto os juros historicamente baixos não fizeram recuperar o investimento – que irá cair 3,3% este ano na zona euro.
a inflação recuou de 1,1% para 0,7% em outubro, um mínimo de quatro anos, e fez disparar os receios de uma deflação na europa igual à vivida pelo japão nas últimas duas décadas. o royal bank of scotland estima que a inflação atinja 0,9% no final do ano e 1,1% em 2014, muito abaixo da meta considerada sustentável (2%).
a queda dos preços indica que as famílias estão sem dinheiro para consumir e que as empresas não conseguem vender, baixando preços e pagando menos aos trabalhadores. a partir daí entra-se numa espiral de menores salários, menos consumo, menos economia.
ontem, o bce decidiu cortar a taxa de juro de referência para 0,25%, um novo mínimo histórico e à beira de zero, um limite onde a instituição terá de embarcar em medidas menos ortodoxas de estímulo – como injecções de capital na economia ou taxas de depósito negativas – para conseguir apoiar o crescimento da economia.