Consumo pode não crescer em 2014

A Comissão Europeia (CE) admite que o consumo das famílias e o investimento das empresas poderão ser menores do que o esperado em 2014 e 2015, ameaçando assim a retoma da economia portuguesa após três anos de resgate.

nas previsões de outono, divulgadas esta semana, bruxelas refere que as pressões para a redução do endividamento de famílias e empresas poderão ter “um peso mais forte” no consumo privado e no investimento do que “é hoje assumido”.

juntas, estas duas componentes representam 80% da economia portuguesa e deviam voltar a terreno positivo em 2014 – subida de 0,1% no consumo e de 1,2% no investimento – apesar do corte de rendimento disponível das famílias e das dificuldades de acesso ao crédito das empresas.

bruxelas salienta que a retoma esperada está dependente das exportações e do sentimento dos mercados, que “permanece frágil”. e as actuais previsões assumem o cenário de um regresso gradual ao financiamento do estado – leia-se programa cautelar.

depois de 3,8 mil milhões de euros em austeridade previstos para 2014, a comissão espera que em 2015 o governo tenha de aplicar mais 1,7 mil milhões em medidas de contenção orçamental, sobretudo do lado da despesa. é um nível de austeridade muito acima do assumido por passos coelho em maio deste ano (470 milhões de euros).

sobre o orçamento do estado (oe) para 2014, bruxelas refere que a maior ameaça ao cumprimento das metas é de cariz “legal”, ou seja, eventuais chumbos do tribunal constitucional a medidas do documento.

previsões optimistas

os riscos macroeconómicos para o oe, como um crescimento abaixo do esperado, derrapagens na receita fiscal ou na despesa do estado, são considerados como “equilibrados”.

outra opinião tem o conselho das finanças públicas (cfp), órgão criado pela troika para avaliar a qualidade das previsões e políticas económicas do governo. num parecer ao oe2014 divulgado quinta-feira, o cfp refere que a previsão de crescimento de 0,8% é “arriscada” e carece de fundamentação, sobretudo ao nível do investimento e exportações.

o órgão liderado por teodora cardoso apontou para um optimismo crónico nas previsões dos oe e lembrou que é difícil estimar o impacto da austeridade no consumo privado.

luis.gonçalves@sol.pt