Bispos inoportunos

Os bispos divulgaram uma nota da Conferência Episcopal Portuguesa contra as últimas medidas fracturantes aprovadas em Portugal (desde o alargamento da legalização do aborto aos casamentos gay), que nada de errado teria na sua essência, não fora a total inoportunidade.

não é por ser católico, que o sou, que me oponho ao aborto (um tema de que poderiam falar mais médicos e biólogos, mas que a ciência quanto mais avança mais comprova estar-se realmente a matar uma criança em formação e indefesa) ou aos casamentos gay (os gay são actualmente o único grupo que defende o casamento em portugal, apropriando-se de uma instituição milenária, destinada a formar famílias com filhos). na essência, até estou totalmente de acordo com a conferência episcopal. mesmo sabendo que as legislações andam normalmente à frente da vontade e da consciência dos povos (desde o voto feminino ao fim da escravatura, como alguém escreveu a propósito), e aceitando o ponto de vista dos que pensam que nas sociedades actuais, com as novas tecnologias e instrumentos como as pílulas de controlo da natalidade, nada pode ficar igual na família tradicional – continuo a pensar que se deve dar a voz à ciência quanto ao aborto e à vida, e que quanto mais frágil é a vida mais deve ser defendida pela sociedade e pelo direito; por outro lado, se querem chamar casamento às uniões de gays, deixem ao menos prevalecer a instituição do velho casamento familiar, que tão útil tem sido no enquadramento das famílias ao longo de milénios, talvez com outro nome (embora me parecesse mais adequado serem os gays a irem buscar outro nome para as suas uniões).

digo que a posição dos bispos foi inoportuna, por ter sido tomada numa reunião em que a prioridade era dar seguimento a uma auscultação dos católicos sobre essas e outras matérias relacionadas com a família, a mulher, a natalidade, os recasados dentro da igreja, etc. e se o papa não quis desta vez ficar-se pela posição dos bispos, nem quis recorrer simplesmente a uma agência tecnicamente especializada em sondagens, era porque pretendia realmente fazer esta auscultação, sem a interferência dos prelados. não para seguir a posição dominante, penso eu (porque a igreja, como a família, nunca foram democracias), mas por algum motivo seu que, como salientou frei bento domingues no seu último artigo do público, faz parte da autêntica revolução que este papa está a fazer.