Longe dos irlandeses

Na crise europeia, Portugal bem se esforçou por colar à Irlanda e descolar da Grécia, mas sem grande sucesso. E não apenas por a Irlanda ter afirmado prescindir do programa cautelar de ajuda pós-resgate, de uma forma que o ministro Marques Guedes não deixou de manifestar total desilusão na conferência de imprensa que se seguiu…

a irlanda é inteiramente diferente de portugal, para o melhor e para o pior: tem um sector público muito mais ligeiro do que o nosso, recebe remessas dos eua com que nós nem sonhamos, usou as ajudas europeias para realmente reforçar a sua economia, sobretudo o sector industrial, em vez de as atirar para grandes obras públicas ou deixar entrar nos bolsos de certos empresários vivaços, sofreu uma colonização dentro da europa que não desejamos a ninguém e ainda lhe deixa feridas abertas, foi apresentada (pelo que se viu, mal) como bom exemplo europeu de desenvolvimento, apesar de a população continuar empobrecida, apareceu mais ligada à crise financeira dos eua pelas suas relações naturais com aquele pais – e sobretudo, no resgate de que beneficiou, em vez de ser uma seguidora conformada da troika, impôs-se também, discutiu argumentos, e nunca aceitou as pressões para subir o irc para além de uns competitivos 12,5%, nem deixou o iva ultrapassar a barreira dos 9% na restauração e turismo. talvez fosse esta diferença no poder de encaixe em relação à troika (não falo das medidas em concreto que seria desejável contestar mais) que justificou o maior sucesso do seu programa – coisa que o nosso primeiro-ministro, a avaliar pelas suas declarações sobre o assunto, está longe de ter apreendido.