o pátio e o enorme armazém das instalações de alcantâra parecem pequenos para acolher, neste fim-de-semana, uma operação logística digna de qualquer grande empresa de distribuição. a diferença é que todos estão a trabalhar de forma voluntária, respondendo a mais um apelo do banco alimentar contra a fome.
esta é a 44.ª campanha de recolha de alimentos dos bancos alimentares, que decorre hoje e domingo, em 1.895 supermercados, com a ajuda de 40 mil voluntários, em 20 regiões do país.
a presidente da federação portuguesa dos bancos alimentares, isabel jonet, disse à agência lusa que a campanha requer “uma operação logística muito pesada”, pois é necessário assegurar a alimentação dos voluntários e a segurança dos equipamento e pessoas.
um pequeno refeitório assegura as refeições dos que ali trabalham de manhã à noite. foram feitos seguros para os empilhadores emprestados por empresas e para os seus manobradores, sem esquecer a publicade para promover a campanha, lembrou isabel jonet, enquanto gritava a duas jovens que saíssem do meio do pátio, para evitar serem atropeladas pelos empilhadores que circulavam a grande velocidade.
è certo que o espaço conta com a presença de um médico para fazer face a qualquer necessidade mas a segurança é uma preocupação constante.
“isto é um verdadeiro frenesim, mas um frenesim organizado porque esta é já a 44.ªcampanha que fazemos”. disse a fundadora do banco alimentar.
segundo a mesma fonte, todos os alimentos recebidos são arrumados hoje, o que obriga a uma jornada de trabalho que se prolonga pela madrugada.
isabel jonet prevê que, na madrugada de domingo para segunda-feira (por voltas das 02:00 ou 03:00), já seja possível fazer o balanço da recolha de alimentos deste fim-se-semana.
a campanha, no entanto, continua até 08 de dezembro através da “ajuda vale”, disponíveis nas caixas dos supermercados com um código de barras específico para os produtos destinados aos bancos alimentares.
até àquela data será também possível a doação de alimentos pela internet, o que permite a participação na campanha de pessoas que habitualmente não se deslocam ao supermercado ou que residam fora de portugal, nomeadamente os emigrantes.
apesar da crise que se vive em portugal, isabel jonet acredita que esta campanha vá superar a anterior.
“tenho a certeza de que os portugueses vão dar tudo o que podem dar nesta altura de crise. as pessoas sabem que há mais pessoas a precisar mas sabem que não precisam de dar muito, precisam é de ser muitos a contribuir”, afirmou.
a quantidade de alimentos que chegavam ao armazém a um ritmo difícil de acompanhar parecia dar razão à presidente dos bancos alimentares.
pedro brito, que participa nestas campanhas há 15 anos, explicou à agência lusa, interrompido por constantes solicitações, que é gestor da equipa de armazém, mas “faz de tudo”, chega por volta das 10:00 e só sai quando está tudo limpo e arrumado.
a operação não tem falta de pessoal, gente de todas as idades enche o enorme armazém, ocupando-se de várias tarefas.
os alimentos que vêm nas carrinhas são levados pelos empilhadores para o armazém e ali são pesados, separados por categorias e devidamente embalados em caixas de cartão ou com plástico.
o espaço parece uma linha de montagem de uma fábrica, mas com mais pessoal. nada falta, desde a passadeira rolante para dividir os alimentos, até às maquinetas para plastificar dúzias de pacotes de arroz ou de açúcar.
no escritório, alguns elementos asseguram que a logística não falha.
é o caso de helena andré que desde a primeira campanha está envolvida neste projecto solidário. é responsável pela gestão dos transportes, onde estão incluídas 200 carrinhas maioritariamente emprestadas por instituições que usufruem do apoio do banco alimentar.
“o banco alimentar tem vindo a crescer desde 1992, em termos de supermercados envolvidos e de logística. tem vindo a melhorar esta dinâmica para chegar a mais pessoas e recolher mais alimentos”, disse à lusa helena andré, reconhecendo que não é fácil gerir a frota automóvel, contando para tal com a ajuda de um programa informático.
a meio da tarde ainda havia uma fila de voluntários, que optaram por ir trabalhar depois de almoço, aguardando a sua vez para entrar no armazém onde tudo se passava.
a jovem tatiana almeida estava ali pela primeira vez, porque os professores da sua escola (a eb 2.3 do bairro padre cruz) os convidaram a ir, e porque achou importante “ajudar quem precisa”.
para diogo almeida, esta é a terceira vez que participa na campanha do banco alimentar e, como das outras vezes, fez questão de trazer uma amiga.
“é sempre bom ajudar, faz-nos sentir melhor ajudar esta causa”, disse, acrescentando que não se importava de esperar, porque lá dentro o tempo iria voar.
de acordo com a federação portuguesa dos bancos alimentares contra a fome, em 2012 foram apoiadas 2.221 instituições de solidariedade, que entregaram os produtos alimentares a mais de 389.200 pessoas, sob a forma de cabazes de alimentos ou refeições confeccionadas, num total de 28.323 toneladas de alimentos (com o valor estimado de 39.651 milhões de euros), o que corresponde a uma média diária de 113 toneladas por dia útil.
no início de junho deste ano, os bancos alimentares recolheram 2.445 toneladas de alimentos.
lusa/sol