Casamento homossexual e eutanásia saltam para a ribalta em Cabo Verde

Os temas do casamento entre pessoas do mesmo sexo e da eutanásia, pouco ou nada falados em Cabo Verde, saltaram hoje para a ribalta durante uma conferência sobre política e partidos políticos, suscitando perplexidade pela ousadia das questões.

Numa conferência sobre os traços essenciais das políticas públicas dos partidos políticos representados no Parlamento em Cabo Verde, as questões foram levantadas pelo jornalista e investigador Anatólio Lima na altura do debate que se seguiu à intervenção do líder democrata-cristão cabo-verdiano, António Monteiro.

O presidente da União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID) não se intimidou e, na presença dos congéneres do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), José Maria Neves, e do Movimento para a Democracia (MpD), Ulisses Correia e Silva, foi lesto a responder “sim” ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e “não” à eutanásia.

“Somos um partido personalista e defendemos que cada um sabe de si. Não vemos nenhum problema no casamento entre pessoas do mesmo sexo. Se essa união ou casamento o fizer sentir feliz, não há qualquer problema”, disse o líder dos democratas-cristãos cabo-verdianos, partido que conta com dois dos 72 deputados no Parlamento.

Já sobre a eutanásia, Monteiro manifestou-se contra, salientando que a prática “não é ética” e que “cabe à justiça divina” decidir.

Idêntica posição defendeu José Maria Neves, que, depois, já no final da conferência e em declarações aos jornalistas, disse que o PAICV é a favor dos direitos das minorias e que não devem existir obstáculos nesse sentido.

“Defendemos a igualdade e o respeito pela diferença e pelos direitos das minorias, a discriminação positiva e a acção afirmativa para integrar todos os grupos minoritários. Consideramos que as pessoas do mesmo sexo que optarem livremente por viver juntos ou por casar não devem ter nenhum obstáculo para que isso aconteça”, disse.

Tal como António Monteiro, o também primeiro-ministro cabo-verdiano (desde 2001) condenou a prática da eutanásia, argumentando que o PAICV defende a vida”.

Ulisses Correia e Silva, também no final da conferência, que lotou a sela de sessões do Parlamento cabo-verdiano, na Cidade da Praia, optou por iludir a questão, alegando que os dois temas não estão actualmente nas preocupações dos cabo-verdianos.

“São questões que nem sequer se colocam actualmente na sociedade cabo-verdiana. Não podemos estar a antecipar sobre fenómenos que não estão, actualmente, no cerne das preocupações dos cabo-verdianos, ou avançar com leis antes de o assunto amadurecer. Não creio que a comunidade cabo-verdiana considere relevante as problemáticas do casamento entre pessoas do mesmo sexo ou da eutanásia”, respondeu.

Os dois temas, juntamente com a questão do aborto, têm estado ausentes do debate público em Cabo Verde.