Isto é uma espécie de coreografia

A Companhia Instável tem um modus operandi peculiar: todos os anos é convidado um coreógrafo, que recruta os intérpretes através de audições. Mais do que nunca, em 2013, a estrutura fez jus ao nome, já que o criador escolhido, Tiago Rodrigues, veio do mundo do teatro. O actor, encenador e dramaturgo tem assim a sua…

o espectáculo partiu da ideia de que qualquer um pode ser coreógrafo. por isso, na sua génese estão descrições do movimento dos bailarinos, efectuadas por anónimos recrutados junto aos locais de ensaio e sem qualquer ligação à dança contemporânea. nos primeiros minutos, os três intérpretes (bruno alexandre, diletta bindi e liliana garcia) parecem autómatos, face às ordens que se ouvem ou são projectadas em vídeo no palco, mas depois como que vão ganhando personalidade própria.

“aceitei o desafio com muito prazer, mas esbarrei com um imenso desconhecido e a cobardia que daí advém”, diz ao sol tiago rodrigues, que encontrou nas palavras do público sobre a dança uma espécie de “língua franca” que aproximou a sua formação teatral da experiência dos bailarinos. “trabalhámos algumas ideias básicas e mostrámos às pessoas. em vez de coreografar as minhas ideias, decidi editar e reescrever o que é dito para ser dançado”.

o resultado é irónico e por vezes cómico: as descrições alternam entre o factual (‘levanta os braços’ ou ‘mexe os pés’), o metafórico (expressões como ‘espasmos’ e ‘posição de macaco’) e a apreciação crítica (‘está perfeito’ ou ‘isso é muito forte’). as palavras raramente conseguem descrever todo o movimento, pelo que sobra muito espaço para a criatividade dos intérpretes.

após a estreia, assim, tipo… dança contemporânea – uma frase usada por um dos anónimos recrutados – deverá ser apresentado em várias salas do país.

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