“há dois anos tinha um, dois turistas por mês. hoje, chego a recusar pedidos”, diz. thura não se considera um empresário: desenhou um site básico, procura visitantes no comboio diário proveniente de mandalay, segunda maior cidade do país, e reza para que as falhas de internet e electricidade não lhe roubem clientes.
o sucesso de thura é um pequeno exemplo de como a vida na birmânia – ou mianmar, como baptizou a junta militar – está a mudar desde finais de 2010, quando o presidente thein sein iniciou o processo de abertura democrática do país. nesse ano, decretou o fim da prisão domiciliária da líder da oposição aung san suu kyi, e aproveitou o levantamento das sanções internacionais por parte dos eua e da união europeia para abrir o país ao investimento e melhorar a imagem externa.
o turismo é um indicador do entusiasmo com a birmânia. os visitantes duplicam a cada ano (serão um milhão em 2013), ávidos por descobrir o último território virgem do sudeste asiático. na esfera económica e política, o cenário é semelhante. neste ano, eua, europa, coreia do sul e fmi marcaram presença em rangum (yangon).
em meados de novembro, a comissão europeia (ce) fechou os primeiros acordos comerciais em três décadas com a birmânia.
a missão empresarial de dois dias liderada por antonio tajani, vice-presidente da ce com a pasta da indústria, levou ao país 40 das maiores companhias europeias e dezenas de câmaras de comércio da ue para explorarem o novo mercado asiático considerado por muitos como a next big thing da região.
bruxelas considera que pme, turismo e os minérios são os sectores que mais oportunidades dão. a ce prometeu apoio para as próximas eleições em 2015 e fechou um pacote de ajudas ao desenvolvimento de 90 milhões de dólares anuais para o país. rangum assegurou a libertação de todos os presos políticos até final de dezembro.
mas o interesse está longe de ser exclusivamente europeu. dos eua, a coca-cola prepara o maior investimento mundial este ano com a construção de uma fábrica e a entrada das maiores cadeias de fast-food acontecerá em 2014.
europeus e norte-americanos querem parte do bolo de um país em que o investimento é dominado por chineses e tailandeses. segundo dados da consultora mckinsey, a economia birmanesa vai quadruplicar nos próximos 15 anos e a classe consumidora passar de 2,5 milhões actuais para 19 milhões em 2030. a estes, acrescentam-se os 500 milhões de consumidores que vivem nas regiões fronteiriças da tailândia, laos, bangladesh, índia e china. debaixo do solo estão amplas reservas de petróleo, gás natural, carvão, zinco, urânio e pedras preciosas (o estado de shan detém as maiores reservas mundiais de jade). metade da população de 50 milhões de habitantes tem menos de 21 anos, uma das mais jovens a nível global.
a sua localização geográfica é ímpar: domina grande parte do golfo de bengala e detém a maior fronteira entre as duas potências regionais da ásia, a china e índia.
mas na birmânia, o sentimento é de cautela perante a avalanche de interesses externos. “temos de ultrapassar 50 anos de estagnação. gostaríamos de mudar as políticas de um dia para o outro, mas com instituições frágeis é arriscado e podemos deitar tudo a perder”, reconhece u soe thane, ministro do desenvolvimento económico.
o grande perigo é a fraca capacidade de o país absorver tamanho fluxo de dinheiro, investimentos ou turistas. com os embargos internacionais, estradas, caminhos de ferros e demais infra-estruturas não são renovados há mais de três décadas. mas não só. vários empresários europeus com quem o sol falou apontam como as maiores dificuldades a ausência de uma lei do investimento, um quadro fiscal credível, as falhas de electricidade e as rendas altas cobradas a estrangeiros.
“ainda somos vistos como um país um pouco melhor que a coreia do norte, é preciso que nos dêem uma oportunidade”, apelou o chefe de gabinete do presidente birmanês, u aung min.
*na birmânia