Suu Kyi: ‘Queremos mais apoio internacional’

Numa entrevista conjunta com a imprensa estrangeira em Rangum, a líder da oposição birmanesa e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi refere que a transição democrática “está longe de estar completa” e apela a investimentos “responsáveis” por parte da UE.

disse aos investidores estrangeiros para virem à birmânia de “olhos abertos”. porquê?

como política que sou, peço aos estrangeiros interessados em investir no país que olhem para a situação política. a dimensão política é muito importante na birmânia. a reforma da constituição é o principal tema na agenda do país e tem hoje o apoio da maioria da população. ignorá-la é não querer enfrentar a realidade e os factos. o comité que está a estudar a reforma da constituição irá apresentar as suas propostas até final de janeiro de 2014. vários responsáveis governamentais referiram nesta conferência a palavra responsabilidade. é preciso focar este ponto. não podemos falar de investimentos sem falar de responsabilidade. quando falo com a população birmanesa acerca dos seus direitos humanos e democráticos, destaco sempre que direitos e responsabilidade andam juntos. há responsabilidades que têm de ser cumpridas.

tem sentido o apoio da união europeia e da comunidade internacional?

gostaríamos de ver maior apoio da comunidade internacional. o apoio externo está a começar a chegar porque só agora se está a tomar consciência da situação do país.

foi libertada da prisão domiciliária há três anos. que lições é que aprendeu de então para cá?

retirei das minhas viagens recentes que a política nunca é fácil. é um esforço constante assegurar que os políticos seguem o caminho certo. é um esforço contínuo, de dia para dia, de ano para ano, de geração para geração. o que estamos a construir na birmânia não é para amanhã, nem para o próximo ano, mas para as gerações vindouras.

teme que a vaga de investimento estrangeiro trave a abertura democrática da birmânia nos últimos anos?

queremos investimentos responsáveis. estamos num processo de transição para a democracia no país e esse processo está muito longe de estar completo. precisamos de investimentos e de um clima de negócios que sejam os correctos, mas também de uma classe política e de um desenvolvimento social e financeiro que seja o acertado. gostaríamos que os investimentos estrangeiros fossem parte dos nossos esforços de desenvolver a birmânia da melhor forma possível. é essencial que estes sejam inclusivos e que a população receba os benefícios desses investimentos.

que apelo faz à união europeia?

gostava que a união europeia e as suas empresas e empreendedores tivessem consciência dessa necessidade de incluir a população nos seus investimentos. não somos contra o capital estrangeiro, mas a favor de investimentos correctos e com a total consciência das necessidades políticas, sociais e ambientais da população. não é só fazer o investimento pelas nossas necessidades económicas. a economia por si só não é suficiente para dar vida nova a um país. temos de ter paz e estabilidade. estas dependem de factores que não são puramente económicos. quem está a pensar fazer investimentos na birmânia deve pensar em incluir o país como um todo e não restringir-se a um só pequeno sector onde estará a fazer lucros. quero que os empresários façam lucros. um empresário que não consiga gerar lucros é inútil para nós. se não consegue beneficiar a si próprio como pode beneficiar o nosso país?

luis.goncalves@sol.pt

*na birmânia