Shakespeare em triângulos amorosos

Que Shakespeare é um dos grandes dramaturgos de todos os tempos é indiscutível. Mas além de textos como Romeu e Julieta, Hamlet ou Macbeth, o escritor inglês é também autor de 154 sonetos, que a escritora Luísa Costa Gomes e o encenador António Pires quiseram levar a palco. Actor Imperfeito está em cena no Teatro…

não é, de resto, a primeira vez que luísa costa gomes e antónio pires levam shakespeare ao palco. em comédia de desenganos resgataram as personagens a sonho de uma noite de verão e imaginaram-lhes uma realidade paralela.

agora, escritora e encenador voltam a juntar-se para uma peça em três actos, que cria uma narrativa para os sonetos que shakespeare escreveu. “são poemas que sempre me intrigaram e impressionaram. a beleza comove-nos, emociona-nos, mas também nos paralisa. escrever a peça foi uma forma de os perceber, de me apropriar deles e os trabalhar”, conta luísa costa gomes. actor imperfeito versa, através de triângulos amorosos, sobre temas como a procriação, a rivalidade literária, a traição, a sedução, a paixão, o ciúme e, até, doenças venéreas.

em palco vemos um tradutor, que marca o compasso da poesia, enquanto tenta encontrar as palavras certas em português actual para verter o texto escrito em inglês há 400 anos. esses mesmos sonetos são ditos por uma das personagens, na sua língua original, enquanto as outras os vivem na sua tradução. ”não quis perder a experiência, nem de deixar de a partilhar, de ouvir os sonetos no original. o que acho importante é traduzir a linguagem codificada, tradicional, palaciana, intensa e carnal, em movimentos, gestos, relações”, explica a autora.

não será fácil transpor poesia para a cena, trabalho que, diz a escritora, é feito com alguma dificuldade e torcendo muito os textos, tentando perceber como criar conflito e como criar uma história a partir dos sonetos. mas, neste caso, a tarefa foi de algum modo simplificada. “os sonetos são, em si próprios, pequenas peças de teatro. shakespeare respirava teatro, tudo o que escreveu é teatro – excepto isto. fiz-lhe esta maldade de lhe transformar os sonetos numa peça. é uma obra de amor por shakespeare”.

rita.s.freire@sol.pt