Uma década

O padre Luís Mendes, de 37 anos, antigo vice-reitor do Seminário Menor do Fundão, foi condenado a dez anos de prisão por 19 crimes de natureza sexual de cinco alunos internos no Seminário e de um outro aluno de um externato onde o pároco leccionava. É nestas alturas que me esforço por entender o que…

 no limite, se chegar a cumprir a pena até ao fim, o padre terá 47 anos quando sair da prisão. gostaria de perceber se foi tido em conta o facto de o abusador ser precisamente a pessoa em quem as vítimas confiavam ao ponto de entregar a sua própria alma. gostaria de entender até que ponto a relação de autoridade e confiança está prevista na lei como agravante para certos crimes. outro julgamento de um padre pedófilo em inglaterra acabou no ano passado com uma sentença de 22 anos de prisão. serão casos diferentes, não questiono, mas dez anos não é uma vida

eurobarómetro

um inquérito da união europeia sobre a actividade cultural concluiu que os portugueses estão entre os europeus que menos consomem livros, espectáculos, teatro, ópera, ballet, etc. o eurobarómetro revela que 49% dos inquiridos afirmou que não tinha hábitos de leitura ‘por falta de interesse’. este dado é preocupante, embora não pelas razões normalmente apontadas. não acredito nos milagres produzidos pela leitura dos clássicos, mas sei que ler um bom livro é uma excelente maneira de passar o tempo. mais, é um bom tema de conversa com amigos que leram o mesmo bom livro. só vantagens saudáveis que pouco têm realmente que ver com ‘a beleza dos livros’. não ter hábitos de leitura significa ter pouca capacidade de se entreter sozinho, de pensar sozinho, de se concentrar até. há outros dados menos alarmantes sobre os hábitos de leitura dos portugueses e há também muita falta de dinheiro. façamos um novo inquérito quando formos ricos e felizes.

caça ao drone

a amazon surpreendeu o mundo com o plano de usar drones para entregar as suas encomendas. tenho o optimismo realista de ainda estar viva quando a hipótese se concretizar e espero que as entregas não se circunscrevam ao espaço norte-americano. há pormenores que têm de ser melhorados, como o peso das encomendas, que não podem exceder os 2,3 quilos. não cheguei a perceber se os drones podem ser capturados ou assaltados como as carruagens no faroeste. imaginemos um céu cheio de máquinas com caixas de entrega. onde há transporte é costume haver desvios de mercadorias e até roubos. uma vez que voam, imagino caçadores furtivos, munidos de redes sofisticadas que permitem capturar as máquinas. abertas as caixas, é só escolher. ‘olha, esta tem o livro novo do rodrigues dos santos. deixa voar!’. ou então: ‘xiii, a trilogia da mary renault sobre alexandre. fica emprestada!’. se se despacharem, talvez ainda tenha saúde para participar na caçada.

relação não vinculativa

a universidade de tóquio, após uma árdua investigação, concluiu que os gatos reconhecem a voz dos donos, mas não se sentem obrigados a dar nenhuma resposta comportamental. ou seja, sabem perfeitamente que os estamos a chamar, mas estão-se nas tintas para os nossos apelos. esta característica felina é explicada com a origem da domesticação. sabemos que os cães foram domesticados pelos nossos antepassados. os gatos, não. foram eles que decidiram viver com os humanos. a história dos silos egípcios, com os ratos e os gatos, é conhecida de todos. só não sabíamos que os gatos foram sozinhos e por sua própria vontade comer os ratos que comiam os grãos e as sementes que deviam ser comidos pelos humanos. o mais curioso deste estudo é a indiferença dos gatos estar relacionada com a auto-domesticação e não com um comportamento próprio do género felis. será que se tivéssemos sido nós a domesticar os gatos contra a sua vontade, o meu me traria o jornal à cama?

megalomania

desde 1940 que a espanha tem a mesma hora do que os países da europa central. a origem da escolha remonta à decisão do general franco de manter a sintonia horária com a alemanha. agora discute-se a necessidade de sintonizar o horário com a geografia, mudando para o fuso de inglaterra e portugal. mas para que esta mudança traga benefícios económicos, certos hábitos deliciosamente espanhóis, como os longos almoços e a sesta, devem também mudar. os horários de trabalho seriam diferentes, com tudo a começar e a acabar mais cedo. os problemas, porém, não se esgotam nestas questões. há espanhóis que querem dois fusos horários no território. o oeste, a galiza, estremadura, etc., pode mudar para a hora de greenwich, mas a espanha mediterrânica deve manter os horários praticados até agora. em caso de dúvida, as próprias regiões autónomas poderiam escolher o horário mais adequado a cada uma delas. há sempre mais problemas do que pensamos no horizonte.