Menos política

O colunista David Brooks escreveu um artigo de opinião no The New York Times sobre uma questão que interessa a quem escreve mas também a quem lê. Que percentagem os temas sobre o governo, as reformas, as finanças devem ocupar na cabeça de cidadãos que não estão envolvidos na política? A conclusão é muito razoável:…

 a excepção vai para as pessoas que vivem em regimes autoritários e que por isso são obrigadas a pensar a toda a hora na política. na verdade, pensam nela porque está tudo mal no seu país. nos restantes países, os governos são como devem ser: previsíveis e desinteressantes. pensar neles é uma perda de tempo. a excitação inesperada na política interna dos países é portanto um péssimo sinal. a politização excessiva da população é um indicador de sofrimento. tenho saudades de um tempo em que se falava bastante menos de política. havia problemas à mesma mas as conversas eram mais interessantes.

duas estrelas

a notícia de que a fnac iria abrir uma loja no centro comercial das amoreiras criou expectativas elevadas, apesar de o sítio escolhido parecer exíguo para tanta mercadoria. talvez por ser cliente da loja quando ainda quase só vendia livros, imaginei uma mini-fnac recheada de livros, talvez com mais edições francesas por causa da proximidade com o liceu francês. só acertei na segunda parte. a fnac das amoreiras tem tudo à venda menos livros, o que é uma boa notícia para as livrarias. o meio corredor de livros com prateleiras e mesas apertadas tem mais edições em francês, mas nada que se compare à livraria do instituto franco-português, que não fica muito longe dali. a loja está repleta de computadores e moleskines e tem uma secção infantil que não parece desinteressante. não é definitivamente uma livraria, e não se dá pelos cds e pelos dvds, se é que os tem. é uma loja para os adolescentes da zona. vai ser um sucesso, mas não me anima.

a/c pai natal

um artigo comovente no telegraph descreve o que acontece às cartas que são escritas ao pai natal. grande parte vai parar a uma estação dos correios em rovaniemi, na província da lapónia, na finlândia. aí estão diariamente duas funcionárias vestidas de duendes a abrir as cartas que chegam com o remetente descontraído, ‘pai natal, pólo norte’. são cerca de 550 mil cartas por ano de todo o mundo que chegam a esta estação com pedidos encantadores. as cartas são enviadas para os correios de helsínquia, que depois as reencaminha para a sucursal natalícia. as crianças chinesas e japonesas são as mais bem educadas e as católicas fazem pedidos modestos. as inglesas e americanas enviam listas malcriadas e várias crianças juntam as chaves de casa porque não confiam em chaminés. a investigação só não revelou as respostas aos miúdos. tantos terão escrito a sua primeira carta a uma personagem. mas ficamos a saber que o pai natal não responde a emails.

#teamnigella

l.v. anderson é editora da slate e escreve sobre assuntos relacionados com hábitos alimentares e gastronomia. é autora de um artigo em que defende nigella lawson da pouca compreensão que tem tido por parte da imprensa britânica. lembremos que nigella lawson, autora de best sellers de culinária e do excelente programa nigella bites, foi acusada pelo ex-marido, charles saatchi, de ter “fechado os olhos” às despesas perdulárias das irmãs grilo, assistentes de nigella, como forma de comprar o silêncio de ambas relativamente ao seu alegado consumo de cocaína. nigella respondeu em tribunal que “se consumisse cocaína diariamente”, como afirmou o ex-marido, “seria bastante mais magra”. ao que parece, a deusa do lar deu um testemunho à altura do epiteto, mas como refere l.v. anderson nada menos seria de esperar. só quem nunca leu o que escreve nem nunca a viu a cozinhar tem dificuldade em perceber o humor subtil e saudável de nigella lawson.

lá de casa

já tudo se disse sobre nelson mandela por ocasião da sua morte e não é útil acrescentar comentários àquele que foi um homem superior no combate e na paz. resta uma curiosidade. porque é que uma série de gente passou a tratar mandela por ‘madiba’, o nome tradicional do clã da etnia xhosa a que pertencia? subitamente, a partir da sua morte, o planeta era amigo pessoal de nelson mandela. ‘madiba’ é o nome por que habitualmente os sul-africanos o tratam. a partir do momento em que se decidiu que mandela era ‘de todos nós’, foi o caos. max fisher, no washington post, apresentou uma lista elaborada por uma leitora sul-africana e o marido dela de pessoas autorizadas a tratar mandela por ‘madiba’. se for sul-africano, tiver participado na luta contra o apartheid, for um dos filhos ou se tiver sido casado com mandela, se for bill clinton ou se souber pronunciar correctamente o nome original, rolihlahla, tudo bem. caso contrário, não se incomode.