Privatizações vão atingir 8 mil milhões

Receita com a venda de empresas públicas deve ficar 60% acima da meta definida. Caixa Geral de Depósitos apresenta até ao fim do ano o parecer sobre a venda dos seguros. A TAP está em espera.

as privatizações previstas para o próximo ano deverão fazer com que as receitas com a venda de empresas públicas durante o programa de ajustamento atinjam mais de oito mil milhões de euros – 60% acima do acordado com a troika em maio de 2011. com a edp, a ren, a ana e os ctt já vendidos, segue-se a caixa seguros. no início da semana, a caixa geral de depósitos (cgd) recebeu as propostas vinculativas para a compra do braço segurador do grupo, que inclui activos como a fidelidade, a multicare ou o negócio da ok teleseguros.

dois interessados formalizaram intenções de compra: o fundo de investimento dos eua apollo global management e o fosun international, conglomerado chinês presente em vários sectores, entre os quais o segurador. ambas as propostas são superiores a mil milhões de euros.

segundo explicou ao sol uma fonte que está a acompanhar o processo de privatização, as duas propostas serão estudadas pela comissão executiva do banco até ao final do ano. depois, será entregue ao governo uma análise das vantagens e riscos de cada candidato. a escolha do conselho de ministros será nas primeiras semanas de 2014.

o preço não é o único critério a pesar. a estratégia apresentada e a própria tipologia do comprador também serão ponderadas. perante ofertas semelhantes em preço, uma seguradora tenderá a ter vantagem sobre um fundo de investimento – cuja vocação não é uma presença de longo prazo.

risco nas vendas em bloco

o governo pode até optar por não aceitar qualquer proposta e seguir outro modelo de privatização, caso veja insuficiências nas propostas. após a colocação em bolsa dos ctt, seguir essa opção na caixa seguros está também em cima da mesa.

“o risco de vender empresas em grandes blocos é que os novos accionistas ganham posições relevantes, que facilitam a descaracterização das empresas”, alerta joão duque, presidente e docente do iseg. no caso da caixa seguros – líder do sector segurador em portugal, com cerca de 30% de quota de mercado – o professor considera mais adequada a venda em bolsa, em vez da negociação directa. “não quer dizer que uma colocação em bolsa não resulte depois numa opa [oferta pública de aquisição], mas uma maior dispersão de capital no momento inicial devia ser a primeira opção nas privatizações”, defende.

apesar das reticências sobre o modelo de venda directa, por blocos, joão duque faz um balanço “positivo” do encaixe com as privatizações. até agora, o governo de passos coelho arrecadou 6,9 mil milhões de euros. além dos mais de mil milhões que a caixa seguros deverá gerar em 2014, deverão ser concretizadas ou lançadas, pelo menos, mais duas operações até ao fim do programa da troika, em junho de 2014.

está prevista a segunda fase de privatização da ren, que deverá implicar a venda dos 9,9% que o estado ainda detém na eléctrica. tendo como referência o preço por acção na primeira fase da privatização e a actual cotação, o tesouro pode arrecadar entre 120 e 150 milhões de euros. até março será ainda privatizada a egf, empresa de tratamento de resíduos do grupo águas de portugal. segundo o diário económico, a operação, por concurso público, pode render 170 milhões.

embora a venda da caixa seguros não reverta directamente para o estado – a receita será incorporada nos resultados da cgd – a venda dos seguros, da ren e da egf vai fazer com que a meta inicial acordada com a troika – captar cinco mil milhões de euros através de privatizações – seja largamente ultrapassada.

ainda assim, há casos problemáticos. a privatização da tap, cuja venda ao único pretendente, gérman efromovich, falhou em dezembro de 2012, continua congelada. o governo diz que só reiniciará o processo quando houver garantias de ter mais candidatos. “talvez no primeiro trimestre de 2014”, apontou esta semana o secretário de estado dos transportes.

tap aguarda

o presidente da transportadora confirmou isso esta semana, num encontro com jornalistas: só “quando existir o ambiente adequado”. fernando pinto garantiu que “tem existido procura” e detalhou que recebe “continuamente” pedidos de informação sobre a tap. “em geral, não são dos que estão directamente interessados, mas sim de bancos de investimento que querem posicionar-se e estudar”, revelou.

apesar de a privatização não ser “fundamental para 2014” porque “a tap tem o plano de negócios até 2016 perfeitamente viável”, o gestor assume que seria “bom que aconteça o quanto antes”, para capitalizar a transportadora. “a empresa tem um custo muito alto por não ser capitalizada. em vez de pagar rendimentos aos accionistas, paga juros aos bancos”, advertiu.

ainda que considere que o mercado “está um pouco melhor” do que há um ano, pinto avisa que “a tap pode ficar sem candidatos”. sobretudo face às declarações de efromovich esta semana, quando disse estar a olhar para a alitalia e a lot e que a tap “não é necessariamente uma prioridade”.

ana.serafim@sol.pt e joao.madeira@sol.pt