Dito & Feito

Rui Rio geriu durante 12 anos a Câmara do Porto. Impôs rigor nas contas do município, contrariou o despesismo e o endividamento reinantes em muitas autarquias (contrastando com o exemplo da vizinha e superendividada Gaia), fez finca-pé na separação de campos da política com outros poderes como o do FC Porto, enfrentou alguns lóbis e…

mas, ao longo desses 12 anos, rio raramente ultrapassou a sua condição regional e pouco revelou sobre um pensamento político mais amplo e estruturado: não ficaram na memória ideias ou intervenções suas sobre a crise da dívida, a dimensão do estado social, a baixa produtividade da nossa economia, a sustentabilidade das pensões ou o federalismo na ue.

essa indefinição, essa espécie de folha em branco programática, talvez tenha contribuído para rio ter sido, agora, colocado na sebastiânica lista de promessas políticas com grande futuro. o curioso é que rui rio decidiu dar corda a esse sebastianismo e tem-se desdobrado em colóquios, conferências e monólogos em locais tão improváveis e politicamente tão surpreendentes como a casa-museu do pai de mário soares ou a associação 25 de abril.

e o que foi propor rio a tão sugestivas audiências? coisas tão populistas, demagógicas e inquietantes como cavalgar a onda de desancar nos partidos que “não põem cá fora o que a sociedade precisa”, apoucar os “políticos de hoje” que são de “qualidade inferior”, denegrir o “sector da justiça que causa aflição” ou agitar o papão de “uma ditadura sem rosto ao virar da esquina”. para obstar a tamanha degradação, rio sugere receitas tão básicas e perigosas como as de “a abstenção eleger cadeiras vazias no parlamento” ou “o voto obrigatório”. tudo o mais no seu périplo conferencista são tiradas politicamente balofas dirigidas aos desencantados com os partidos.

parece que rui rio, apesar desta vacuidade populista, tem ambições de chegar alto no partido e na política nacional. porque não? não chegou, também, luís filipe menezes a líder do psd? tudo é possível.

jal@sol.pt