Welcome to Portugal

A ideia dos Gato Fedorento de contratar ‘um jagunço estrangeiro’ para ‘dar uma coça’ no primeiro-ministro português é uma maravilha que devia ser premiada.

a imaginação, o desrespeito, o talento, a liberdade e, ainda por cima, o inglês correcto são características que não encontramos facilmente reunidas em quatro pessoas. o apelo à violência foi ternurento. foi de tal maneira carinhoso que esvaziou uma conversa sobre ‘pauladas’ que tem vindo tristemente a ganhar terreno. a ‘violência’ de contratar o brutamontes steven seagal para ‘dar uma coça’ a passos coelho porque ‘roubou a pensão da minha avó’, fazer uma campanha para dar ‘um banano’ em paulo portas e recorrer ao produto nacional, o marco do big brother, para sovar os outros ministros é de uma doçura e graça libertadoras. só tenho pena de o sketch ter sido tão curto e de não termos os gato fedorento todos os dias na televisão a resgatar-nos do tédio medonho em que tudo isto se tornou.

a angústia da influência

a time publicou a lista das personagens de ficção mais influentes do ano. a maioria das personagens foram interpretadas com enorme talento, outras com enorme vergonha. em primeiro lugar está walter white, da série ruptura total, interpretada pelo grande bryan cranston. os problemas morais discutidos por sua causa despertaram muita gente. em terceiro lugar, encontramos katniss everdeen, de os jogos da fome. infelizmente, jennifer lawrence não foi escolhida pelo seu talento mas por causa dos produtos, a linha de armas, aljavas e arcos nerf rebele para raparigas. o quinto lugar é o mais admirável. carlos danger é um nome fictício inventado por anthony weiner, ex-congressista democrata e ex-candidato à câmara de nova iorque, que perdeu catastroficamente as eleições. na sua conta twitter assinava como carlos danger, enviava mensagens obscenas e fotos da sua presumida virilidade, que por sua vez foram retwitadas pela destinatária. o resto é história.

domésticos protegidos

o social-democrata cristóvão norte e o socialista pedro delgado alves assinaram os projectos-lei sobre a criminalização de maus tratos a animais domésticos aprovados há pouco no parlamento. é um pequeno passo para corrigir uma falha na legislação não existente de protecção aos animais e por isso os deputados estão de parabéns. imagino que a negociação não tenha sido fácil, porque os projectos aprovados dizem respeito apenas aos animais domésticos. as touradas, lamentavelmente, ficaram de fora. mas a decisão é inédita no país e crucial para se dar o passo seguinte, que está mesmo ao alcance de qualquer pessoa: se atirar um gato pela janela fora é um crime punido com multas e penas de prisão, então como é que espetar um touro quase até à morte é legal? estas questões demoram a resolver e a tentação de extremar posições é grande. sabemos que um animal não é um ser humano. por isso mais responsabilidade temos nós de os respeitar e deixar em paz.

segundas desculpas

a desvantagem de ter preguiça para a pirataria televisiva é poder enganar-me nas minhas recomendações. não é frequente, admito com a modéstia que me caracteriza, mas é a segunda vez que me acontece aconselhar uma série que não presta. venho, como fiz da primeira vez com a péssima série smash, rectificar o meu erro e deste modo esperar que me desculpem. a recomendação falhada foi a da série de marc cherry, criadas e malvadas, ao estilo de donas de casa desesperadas, mas desta vez protagonizada por criadas latinas em beverly hills. a série é muitíssimo fraca. o problema não é ser ligeira, é mesmo ser má, com péssimos diálogos e interpretações embaraçosas. o melhor é esquecer e começar de novo com duas séries novas. talvez na rtp 2, com margens do paraíso, de jane campion, que me interessou, apesar de ser australianamente lenta e misteriosa, ou no canal sundance, com rectify, que teve um primeiro episódio promissor. espero não ter de me desculpar outra vez.

sem império

todos os ditadores são ridículos. mel brooks mostrou-o quando ridicularizou adolf hitler no musical os produtores. a dupla criadora de south park, trey parker e matt stone, também o demonstrou no original team america, ao apresentar uma caricatura do falecido kim jong-il. a monstruosidade de kim jong-un, o querido líder da coreia do norte que mandou executar o tio, jang song-thaek, de 67 anos, que fazia parte da família por casamento com a única irmã de kim jong-il, torna-o um candidato a personagem ridícula de blockbuster americano. mas por enquanto a figura é aterradora. dos sete homens de confiança que herdou, apenas dois permanecem a seu lado. como qualquer pessoa que se preocupa em manter um poder ilusório, kim jong-un não confia em ninguém. é parecido com os imperadores romanos, como tibério, nero, calígula, capazes de actos horrendos só para se sentirem um pouco mais seguros no poder. mas nunca sentem. esta história feia só tem um fim.