Camarate: um crime politicamente decidido

Talvez por ter acompanhado na altura como jornalista o caso Camarate (em que morreram Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e António Patrício Gouveia), e ter muito boas relações pessoais com os mortos, faz-me impressão a insistência em determinar politicamente um crime, contra todas as evidências técnicas da investigação.

na altura, em contacto com investigadores nacionais e internacionais, fiquei persuadido de que não houvera crime. embora tecnicamente a explosão pudesse ter-se devido a uma bomba, também se podia dever a acidente – e era para esta última hipótese que apontavam todos os indícios apurados. tanto mais que a avioneta era velha, mal tratada, e fora escolhida à última hora para aquela viagem.

mas sucessivas comissões parlamentares têm virado o mundo do avesso, para concluir, politicamente, que se tratou de um atentado. já vamos na x comissão, que deverá deliberar em março ou abril próximos, provavelmente outra vez pela teoria do crime – mas nenhuma delas apurou qualquer evidência que apontasse nesse sentido. entretanto, gostava de saber quanto têm gasto aos contribuintes, nestas 10 comissões parlamentares, os deputados que querem á viva força transformar o acidente num crime, perante a indiferença cansada dos seus colegas menos preconceituosos.

porque houve uma época em que o assunto serviu para esgrimir numa guerra politica contra francisco balsemão – ainda por cima, provavelmente, o maior amigo pessoal de sá carneiro. mas esquecida essa guerra, já só restam os despojos espalhados da obstinação. se ao menos se baseassem num só facto ou indício apurado – mas não, é só convicção interior.