Carta do Ano Velho para o Ano Novo…

Meu caro e jovem 2014. Escrevo-te esta carta já no fim da minha vida que, como vais descobrir, terminará no exacto momento em que se iniciam os festejos pela tua chegada. Na magia desse fugaz e quase sempre animado instante, nunca há oportunidade para um, breve que fosse, encontro entre o ano que morre e…

mesmo sendo politicamente incorrecto, este ano quebro a tradição, pelo menos aqui em portugal, e torno pública esta minha carta de ano velho para ano novo, num testemunho que talvez te possa ajudar.

quero começar por te avisar que vais ser recebido com promessas de grandes mudanças e projectos ainda melhores. aceita-os, mas está muito atento pois muitas dessas declarações de intenções podem não passar disso mesmo.

mal cheguei, já não me lembro bem quando, falou-se da necessidade de baixar o iva na restauração. morro com esse desgosto, esperançado que talvez possas ser tu a acolher essa decisão justa e inevitável.

não dês ouvidos à troika, quem te avisa teu amigo é. ela na verdade nunca aparece, mas manda recados por uns senhores muito mal-encarados, que aparecem por cá de vez em quando. se te livrares deles tanto melhor – eu, infelizmente, não consegui.

fazem o papel deles, dirás. claro que sim, mas olham para nós lá do cimo da burra (desculpa a expressão) e às vezes nem ouvem as nossas contrapropostas, muito mais realísticas e eficazes até para o relançamento da nossa economia, indispensável para gerar a riqueza fundamental à satisfação das nossas necessidades e dos nossos compromissos.

no meu reinado conseguimos, por exemplo, que o imobiliário começasse a fazer parte da solução e deixasse de ser visto como problema ou, pior ainda, como uma das árvores das patacas da fiscalidade. mas nem sonhas como o pouco que já conseguimos foi difícil de alcançar.

os vistos gold de residência para estrangeiros de fora da união europeia… nem queiras saber como foi difícil e, no entanto, fizeram entrar milhões de euros de investidores estrangeiros, muitos deles interessados no nosso imobiliário. principalmente na prometida reabilitação urbana dos centros das nossas principais cidades, projecto que relançará o mercado do arrendamento urbano e o turismo residencial de qualidade.

mas até neste campo da reabilitação urbana é urgente que o estado, todos nós, governo incluído, saibamos dar mais sinais de uma vontade efectiva em incentivar a reconstrução das nossas cidades. conto que durante o teu reinado esta frente seja consolidada.

no meu ano, as instituições financeiras olharam muito realisticamente para o problema das famílias endividadas que devolviam casas em dação de dívidas por pagar – conseguiram estancar e inverter essa tendência renegociando contratos de financiamento antes da ruptura da famílias em crise. sei que no teu mandato vão estender estes cuidados aos clientes empresariais, o que é – tens de reconhecer – uma óptima notícia.

terás, no entanto, de ser firme na defesa do justo valor do património construído e em combater as tentações de fazer do imobiliário uma grande fonte de receita fiscal. contamos todos contigo para mantermos viva a chama deste optimismo.

*presidente da apemip, assina esta coluna semanalmente