Urze: A montanha desceu à cidade

Três empresas juntaram-se na mesma marca para promover o burel, a lã, o algodão e o linho. Tudo ecológico e devidamente certificado. Apesar de a ideia só ter tomado forma este ano, é herdeira da tradição das lãs artesanais que está há três gerações na família Clara, em Manteigas, no coração da Serra da Estrela.

primeiro a tradição. reza a história que a serra da estrela é pródiga em lanifícios. desde o século xii que ali se usa uma lã de “tipo bordaleira sem exposição a herbicidas ou fertilizantes e com um aproveitamento de cerca de 50% dos lotes mais finos e suaves”, explica antónio fonseca e costa sócio da urze. a empresa reúne a ecolã (há três gerações na família clara), a encosta-te a mim e a sennes, da belga nele de block, que é igualmente responsável pelo design das peças de vestuário – capas, casacos, cachecóis, malhas – que estão à venda na primeira loja do grupo em lisboa, no príncipe real.

a parceria entre as três marcas nasceu em fevereiro, depois de susana atalaia e rita castelo branco, da encosta-te a mim, terem procurado a ecolã como fornecedora de matérias primas para almofadas, pufes e sofás que a sua empresa faz. em conversa, mostraram interesse em montarem um projecto juntos e terem uma loja em lisboa. passado pouco tempo as sócias traziam boas notícias a antónio: “tinham encontrado o sítio certo!”. como a ecolã já trabalhava com a empresa de nele de block, juntou-a também ao grupo e deu-lhe o nome de urze – portuguese mountain lifestyle: “a ideia é agregar produtos de montanha que são desenvolvidos por projectos diferentes mas todos ligados à lã, ao linho, ao algodão e a todos os produtos em fibras naturais ecológicas”, sintetiza antónio.

e a tónica na sustentabilidade ecológica não é só um chavão. por exemplo, a ecolã acompanha todo o ciclo de transformação da lã, desde a tosquia à compra directa aos pastores, lavagem, fiação e tecelagem. o que implica tarefas como lavar a lã com água de nascente natural captada a 1.400 metros de altitude – “o que faz com que não seja necessário usar químicos” – e que todos os processos sejam, sempre que possível, manuais. “só trabalham com lã com certificação ecológica ou lã certificada com oeko-tex standard 100, o que tem explicado um pouco o sucesso no mercado nacional, mas também na europa e no japão, que é um dos mercados mais importantes para nós”, lembra antónio.

aliás, nos últimos 25 dias, o sócio da urze esteve fora, dividido em duas importantes feiras mundiais, uma em milão e outra na alemanha, e os resultados não se fizeram esperar. em terras teutónicas há já um agente de ligação que coloca à venda os produtos feitos na serra da estrela. no país mediterrâneo, a urze tornou-se presença habitual em quatro lojas – roma, milão, bolonha e sarzana. “itália é um mercado em que o design, a qualidade e toda a área de moda é extremamente competitiva. é onde todas as marcas mundiais estão. portanto é importante ter um bom produto ou não era possível toda esta fidelização dos clientes”, notam os empresários.

mas o país que surpreende mais pela sua ligação à matéria-prima serrana é o japão: “para eles é importante a história por trás de cada peça. posso dizer que este ano recebemos uns 30 japoneses, que vieram a portugal e fizeram mais 200 quilómetros de lisboa ou do porto para ir para manteigas. pelo meio mandam mensagens, escrevem postais… digamos que há uma relação muito engraçada em termos de produtor/consumidor. têm muito afecto a escrever-nos, dizem ‘gostei muito’, ‘a manta é muito boa’, ‘a manta é muito quentinha’. só assim faz sentido que eu vá vender uma manta a 15 mil quilómetros!”.

para o próximo ano, a marca tem novidades na manga. uma delas é trabalhar mais o algodão e o linho e apostar nas cores de verão para diminuir a sazonalidade.

patricia.cintra@sol.pt