o que vamos poder ver em 2014?
uma grande variedade de coisas, desde o trabalho com os forced entertainment, que consiste em espectáculos longos durante os quais o público pode sair e entrar, alguns trabalhos improvisados, espectáculos teatrais bastante caóticos e outros minimais e extremamente focados num tema. e vou também mostrar algum trabalho em fotografia e outro em néon. parte estará exposto em galerias, outra parte em espaços públicos da cidade. e tenho projectos com os parceiros locais: vou escrever um texto para os jovens do panos e outro para a companhia maior. é uma grande mistura de coisas. o que é excelente.
tem performances teatrais bastante longas. como funcionam?
podem durar entre seis a 24 horas. aqui vamos apresentar peças de seis horas. o público pode chegar a qualquer altura e pode ficar o tempo que desejar e voltar quando quiser. é muito interessante. as pessoas muitas vezes chegam pensando que vão ficar apenas um bocado para ver o que estamos a fazer. acham que vão ficar meia hora e acabam por ficar quatro horas. no teatro temos muitas vezes aquele pensamento: ‘oh deus, tirem-me daqui, quanto tempo é que isto vai durar?’. mas nestas peças longas, porque se pode sair a qualquer altura, as pessoas sentem vontade de ficar, uma vez que não são obrigadas a fazê-lo. é um contrato completamente diferente. as pessoas gostam disso. claro que é um grande desafio para os actores, que ficam numa posição um bocado estranha. mas também fica o público.
na apresentação citou baudelaire que diz que uma criança quando vê um brinquedo o quer destruir. também quer destruir o teatro?
quero pegar no teatro e tentar perceber o que se pode fazer com ele. baudelaire diz que a criança tem vontade de partir o brinquedo para o perceber. por vezes sinto isso em relação ao teatro, vontade de o destruir para ver as várias peças que o compõem e descobrir como as podemos juntar de novo de forma diferente. mas o que é importante para mim na performance é o tipo de transacções que ocorrem quando alguém actua e alguém assiste a essa actuação. depois de 30 anos a fazer teatro ainda me sinto totalmente fascinado pela fragilidade e electricidade dessa troca ou negociação. e isso influencia tudo o que faço. esse encontro e a electricidade nele presente.
o seu trabalho é reconhecido e aclamado. no entanto, muitos continuam a vê-lo como alternativo. por que acha que isso acontece?
tenho interesse na improvisação e numa estética um pouco rude, caseira. o meu trabalho não é muito estético no sentido clássico do termo. apesar de tudo ser controlado e decidido, pode parecer que não é, pode parecer pouco limpo. para alguns públicos isso é fantástico. mas algumas pessoas gostam que a arte corresponda mais à ideia clássica que têm dela e demoram algum tempo a perceber que este trabalho está feito de forma cuidada. há uma energia que as pessoas podem não perceber de imediato, caso estejam habituadas a peças mais formais.
vai apresentar trabalhos na área do teatro e outras de artes plásticas. põe estas duas artes lado a lado ou há alguma que pesa mais?
gostaria de pensar que estão ao mesmo nível. algumas pessoas conhecem realmente bem o meu trabalho teatral e por isso o resto parece secundário. mas há agora muita gente com quem trabalho nas artes visuais que não conhece de todo o meu trabalho de palco. sabem que o faço, mas nunca o viram. é um equilíbrio que está a mudar, o que é muito interessante: há quem conheça bem o meu trabalho teatral e tenha uma ideia do resto e depois há pessoas no lado oposto, que me associam muito mais aos néons do que às performances teatrais. costumava sentir que eram trabalhos distintos, que não podia falar de ambas as artes na mesma conversa. que tinha de escolher um dos chapéus. mas nos últimos três ou quatro anos isso mudou, porque andei a pensar nas ligações entre os dois. agora vejo-os como parte do mesmo projecto artístico. a forma muda, as circunstâncias de produção mudam, tal como o contexto em que se mostra o trabalho, mas estou ocupado com as mesmas questões.
quais?
duas. há a questão do abrir um espaço de encontro entre artista e espectador. e depois há a linguagem, do seu funcionamento, de como nos define, de como nos aprisiona, e de como nos abre novas possibilidades. volto sempre às palavras e às suas possibilidades. a linguagem é uma prisão mas é também uma chave fantástica para abrir portas. e isso está presente ao longo de todo o meu trabalho.