Revolução em Campo de Ourique

Ao fim de poucas semanas, tornou-se um dos pontos de encontro da capital. O renovado mercado de Campo de Ourique, em Lisboa, com bancas de petiscos, está a revolucionar a zona: dinamizou as vendas dos antigos feirantes, muitos deles naquele espaço há décadas, e também o comércio do bairro. O aumento de clientes e visitantes…

nunca, em quase meio século como feirante em campo de ourique, d. glória, de 77 anos, se lembra de ver tanta gente no mercado. “há dias que entramos às sete da manhã e só fechamos às 22h”, conta, satisfeita, lembrando que até novembro (data em que o novo projecto abriu portas) a maioria das bancas fechava às duas da tarde: “é uma alegria ver tudo renovado e ter gente nova a trabalhar aqui”.

ao final da tarde, há grupos de colegas a beber um copo, casais a petiscar pregos ou famílias com carrinhos de bebé a tentar encontrar lugar nas mesas. os cerca de 250 lugares sentados do mercado não chegam para todos. à hora do almoço, o espaço enche e ao início da noite ainda é mais complicado conseguir uma cadeira vazia.

“já conhecia este conceito do mercado de san miguel, em madrid, e estou a gostar muito”, diz cristina, que veio de propósito a campo de ourique para jantar neste espaço. mas há quem faça mais de 200 quilómetros. “tivemos cá uma família que veio do algarve para conhecer o mercado”, contam pedro perestrelo e inês biscaya, que trabalham no recém criado café do mercado. “há sempre gente a chegar”.

vendas dispararam

a renovação do mercado – cuja exploração foi entregue pela câmara de lisboa à empresa mco – trouxe nova vida a um local que, como outros mercados do país, vinha a perder clientes de ano para ano. e mesmo as obras que se arrastaram mais de um ano e que encheram de pó as bancadas, frutas e legumes, compensaram, dizem antigos vendedores.

no mercado, há bancas que aumentaram 70% as vendas. d. gina, que ali vende fruta há 27 anos, não revela números, mas reconhece que os feirantes antigos estão a adaptar-se, renovando a oferta: “hoje, faço uma montra na banca para os habituais clientes da manhã – com maça, pêra e bananas – e outra para os da tarde e noite, com uvas sem grainha ou frutos secos”.

o alargamento do horário de funcionamento criou novos empregos. isabel foi contratada para atender os clientes na padeirinha, que fechava às 13h e agora vende pão até ao jantar. “são mais de 100 pessoas por dia que aqui vêm”, diz.

caos no estacionamento

rosa veio ao mercado comprar um vaso de dálias na banca da d. fernanda. mas o marido ficou no carro. “não consegue parar e está a dar voltas a campo de ourique”, conta.

a falta de estacionamento é a principal queixa de clientes e de quem vive no bairro. “tem sido um horror”, admite mafalda nunes, que mora e tem uma loja em campo de ourique: “chego a dar dez voltas ao quarteirão e não arranjo um único lugar”.

durante a época das festas, conseguir encontrar estacionamento é uma ‘missão impossível’ e os carros param em dupla fila em frente ao mercado. apesar de haver um parque privado ao lado, já houve quem partisse a corrente do largo da igreja de santo condestável para permitir a mais carros estacionarem.

dora, de 30 anos, admite que é cada vez mais difícil andar nos passeios com o carrinho de bebé da filha de um ano. “gosto do mercado, mas aos fins-de-semana é muito difícil circular por aqui. então estacionar é impossível”, afirma.

restaurantes da zona com mais clientes

os moradores reconhecem que com a abertura do mercado, o bairro ganhou nova vida. “andamos por aqui à noite e há sempre gente, quando as ruas estavam normalmente desertas”, diz satisfeita ana duarte, de 35 anos, que mora com a família em campo de ourique: “agora já não tenho que sair do bairro para me encontrar com amigos: todos querem vir aqui ter”.

a enchente de clientes no mercado tem beneficiado sobretudo outros restaurantes da zona. é que, se não há lugar nas tasquinhas, os visitantes espalham-se pelos muitos restaurantes do bairro. “numa destas sextas-feiras tentei jantar com amigos no mercado, mas estava à cunha. corremos mais dois restaurantes que estavam cheios de clientes que também não tinham conseguido lugar”, recorda maria, uma cliente que naquele dia, por ser ainda final da tarde, tinha finalmente conseguido petiscar no novo espaço.

na loja da adega cooperativa 2 portos, a dois passos do mercado, sérgio lemos também não tem mãos a medir. “aqui tive um aumento das vendas de vinho em 40%”, revela satisfeito o funcionário. “há muito mais gente em campo de ourique”, garante.

mas há outros comerciantes que ainda não sentiram benefícios na mudança: “não tive mais negócio, pelo contrário as vendas até baixaram na loja porque as pessoas não conseguem parar o carro”, admite lucília romano, proprietária da loja de roupa emilius, mesmo em frente ao mercado.

joana.f.costa@sol.pt