joaquim (nome fictício) tem 20 anos, é natural da madeira e frequenta uma universidade no continente, cujos custos são pagos com o dinheiro que a sua família obtém da telexfree. ouviu falar do negócio em abril do ano passado: “é sempre um risco. mas, se compararmos com outros negócios – como as acções em bolsa ou arrendamento de casas –, o risco é bastante baixo em relação ao investimento que temos de fazer e o retorno muito maior”.
foi o pai de joaquim quem lhe deu o dinheiro para o investimento inicial. ao todo, a família tem hoje seis contas na telexfree, pelas quais recebe 600 dólares por semana (440 euros, ou seja, 1.700 euros por mês). “a telexfree coloca o dinheiro num banco virtual, o e-wallet. podemos depois transferir para o nosso banco, ou então criamos um cartão de crédito para movimentar o dinheiro. mas na conta têm sempre que ficar 300 dólares”.
‘um plano de marketing e não uma pirâmide’
m. é licenciado e já fez um pouco de tudo: foi professor, trabalhou numa autarquia e numa empresa turística. há cerca de sete anos que se dedica ao chamado “marketing de atracção”, ou “marketing magnético”, e foi um dos primeiros impulsionadores da telexfree na madeira. recusa dizer quanto ganha em média por mês, mas a verdade é que está a tempo inteiro no negócio “multinível”, promovendo e divulgando equipas.
garante ao sol que se trata de uma actividade legítima e diz que haverá actualmente cerca de 300 mil contas abertas por portugueses na telexfree (sendo que cada uma exigiu o investimento de 1.425 dólares), com uma grande margem de progressão em 2014. este fim-de-semana, aliás, desloca-se ao continente para sessões de divulgação do negócio que vão decorrer por todo o país, em hotéis, desde braga a faro.
m. nega que a telexfree seja um esquema em pirâmide. este, argumenta, alimenta-se exclusivamente de novos divulgadores, quanto aqui há a venda de um produto (voip), uma renovação (ao fim de um ano, os aderentes têm de pagar novamente 1.425 dólares para manter cada conta) e o pagamento obrigatório à telexfree de 20% dos lucros obtidos ao longo do ano. e, por isso, este “plano de marketing” delineado pela empresa torna sustentável o negócio, evitando o ponto de ruptura característico dos esquemas ponzi.
por outro lado, diz que portugal não tem enquadramento fiscal para a declaração deste tipo de rendimentos. refere que a retenção “é feita na fonte” e acha que o estado não perde receitas porque o dinheiro assim obtido é derramado na economia convencional.
joão (nome fictício), de 36 anos, é outro aderente. estava desempregado há cerca de seis meses, já sem direito a subsídio, quando descobriu o negócio. o seu objectivo é “obter um pequeno extra todos os meses” – mas, admite, há ‘divulgadores’ que “mudaram completamente a sua vida”, passando a dedicar-se em exclusivo à telexfree.
joão conta ao sol que ganha, no mínimo, 400 dólares (cerca de 300 euros) por mês, publicando em sites de classificados (nacionais e internacionais) anúncios do produto comercializado pela empresa (pacotes de chamadas via internet). “basta falhar um dia e não se recebe o pacote nessa semana”.
há outra forma de ganhar dinheiro: pela angariação de novos clientes. “ao indicarmos alguém, essa pessoa vai adquirir um conjunto de planos, logo vai gerar ganhos à empresa e nós recebemos uma comissão: 100 dólares por indicação directa”. mas o contrato dura apenas um ano: “se quisermos continuar, temos de adquirir nova franquia e pagar à empresa 20% de todos os ganhos, para com isso garantirmos a continuação da rede que construímos”.