Egipto vota fim definitivo de Morsi

Arrancou nesta terça-feira a votação de um referendo à nova Constituição egípcia. Mais de 52 milhões de pessoas são esperadas nas urnas entre hoje e amanhã para decidir se aprovam as alterações ao texto constitucional. Se ‘sim’, está dado um passo decisivo na legitimação do actual governo interino e, consequentemente, declarada a morte política de…

trata-se de um dos momentos mais importantes para este país renascido da primavera árabe que, há três anos, derrubou o ditador honsi mubarak e, há apenas seis meses, destituiu do poder o primeiro presidente democraticamente eleito, o islamita mohammed morsi. desde o seu afastamento pelos militares, mais de 1000 pessoas morreram na sequência de protestos violentos.

a nova constituição, que limita o alcance da lei islâmica e que introduz novos artigos vistos como uma vitória para os defensores dos direitos e liberdades individuais, e que, por outro lado, amplifica o poder dos militares na vida política, apresenta-se como substituição da constituição aprovada pela maioria islamita no parlamento durante o (curto) período em que morsi esteve ao comando.

do lado do ‘não’ estão os sectores islâmicos mais conservadores, insatisfeitos com a retirada de morsi e a violenta perseguição ao seu movimento político, a irmandade muçulmana, agora proibida e classificada como grupo terrorista. estes sectores temem ainda que as alas que governaram durante a era mubarak voltem à cena política e impeçam os avanços conseguidos com a primavera árabe.

os militares querem a todo o custo um expressivo ‘sim’, para reforçar a queda do islamita, mas a irmandade muçulmana já apelou ao boicote do escrutínio.

boicote e segurança

horas antes da abertura das urnas, uma explosão fez-se sentir junto a um tribunal do cairo, sem vítimas. em bani suef, a sul da capital, uma pessoa morreu durante um protesto anti-referendo, confirmou o governador daquela cidade ao correspondente da bbc.

o cenário previsível de protestos, levou à montagem de uma enorme operação de segurança para os dois dias de plebiscito. de acordo com o ministério do interior, serão pelo menos 200 mil agentes da polícia, 150 unidades de segurança e 200 grupos de combate em torno das assembleias de voto. “trabalhem bem. precisamos que o referendo seja completamente seguro”, disse o chefe do exército – e do governo transitório -, o general abdel fattah al-sisi, durante uma visita a um dos pontos de votação.

referendo pouco democrático

mas são vários os relatos de correspondentes no cairo que falam num processo pouco democrático e numa campanha “distorcida”, apesar de o referendo ser um instrumento da democracia. a televisão, quer estatal quer privada, tem apoiado de forma deliberada a nova constituição, ao mesmo tempo que a campanha pelo ‘não’ tem sido boicotada. várias pessoas foram detidas quando afixavam cartazes nas ruas, comprovou a jornalista orla guerin.

democrático ou não, certo é que o referendo está a ser visto pela grande maioria como o fim anunciado da irmandade muçulmana, sob a forma do ex-presidente morsi. e com a economia desgastada pela instabilidade política e a tensão sectária em crescendo, o ‘sim’ é mesmo o favorito a uma vitória esmagadora.

rita.dinis@sol.pt