Amanda Seyfried: ‘Sinto-me atraída por tipos nojentos’

Em 1971 um cinema de Nova Iorque provocou um pequeno terramoto ao ousar exibir o infame Garganta Funda. Em Lovelace, que estreou na quinta-feira, Amanda Seyfried veste a pele da sua protagonista, Linda Lovelace, uma mulher explorada pela indústria da pornografia e abusada pelo marido.

depois de nos ter embalado com o seu canto melodioso em mamma mia, amanda seyfried encarnou um capuchinho vermelho para adultos, foi namorada do cobiçado channing tatum em juntos ao luar (baseado num romance de nicolas sparks) e participou no épico revolucionário os miseráveis. nada que a preparasse para emprestar o corpo a linda lovelace (1949-2002), protagonista do infame filme de culto garganta funda. a vida trágica da estrela porno é revisitada em lovelace, que se estreou na quinta-feira.

já tinha visto o garganta funda antes de fazer este filme?

já tinha visto. achei-o um pouco aborrecido e ingénuo, mas simpático.

a sua personagem, a protagonista de garganta funda, começa como uma rapariguinha muito púdica, mas que depois descobre a sexualidade e acaba por ser abusada pelo marido. como trabalhou essa evolução?

o argumento não era linear. algo que até me perturbou no início. ela é atirada para um mundo que não conhece, numa altura em que vive ainda com a família. começa quase como uma criança.

por aquilo que conhece da história da linda lovelace, acha que ela queria fazer carreira na indústria pornográfica?

não, acho que não queria. ela procurava apenas descobrir o amor e ter a aceitação do seu parceiro. acabou por seguir um caminho muito duro. a história dela foi uma das razões pelas quais eu quis fazer este papel. todos temos uma ideia acerca da linda lovelace, mas é uma visão parcial. só quando se manifestou contra a violência doméstica de que era vítima a sua história adquiriu uma outra dimensão. infelizmente, acabou por morrer, e coube-nos a nós contar a sua história.

os realizadores definiram-na usando palavras como ‘audaz’ e ‘corajosa’. sentiu que teve de arriscar para fazer este papel?

procurava algo que me colocasse desafios e pudesse agarrar com ambas as mãos. ter conseguido revelar o meu lado mais destemido deve-se ao espaço que os realizadores criaram e em que me senti segura. e o facto de contracenar com o peter sarsgaard, que está muito à vontade com a nudez, ajudou-me muito.

não receou de que o filme explorasse o sexo de uma forma mais gratuita?

o único receio que tive foi não transmitir a visão que linda gostaria que fosse conhecida. nunca me passou pela cabeça que o filme fosse explorar algo que fosse visto como sendo gratuito ou injusto para com ela. aliás, eles gostavam muito dela, tal como eu aprendi a gostar também. eu sabia que não era isso que os realizadores procuravam.

conhecia a história da linda lovelace antes de fazer este filme?

apenas pelo documentário dentro de garganta funda [2005], depois li a biografia dela. a verdade é que temos um grande acesso à vida dela, há muitas fotos dela online e do filme garganta funda.

agora que viu o filme, consegue ver na cara dela que não estava a ser feliz?

talvez em pequenos detalhes, ainda que não nas cenas de sexo. acho que durante as cenas de sexo ela desligava e assumia-se como uma espécie de corpo mecânico. não me parece que fosse algo que a excitasse, mas a verdade é que ela nem sequer era uma grande actriz. mas vê-se que tentava o máximo para ser realista. é triste porque muita gente não acreditou na história dela, e ninguém queria contratar uma ex-estrela porno.

aceitou este trabalho para diversificar a sua carreira?

absolutamente. é um pouco isso que tento fazer sempre. nesse aspecto conta menos quanto vou ganhar e mais o que poderei retirar da experiência.

teve algum receio em aceitar este trabalho devido à exposição do seu corpo?

sabia que num filme passado no mundo de uma estrela porno e classificado para adultos isso seria necessário. mas não tive qualquer receio.

estabeleceu limites no que toca à exposição do seu corpo?

a nudez praticamente não se vê. o que se vê é bem mais profundo. desde cedo percebi que este seria um filme sobre uma mulher e a relação dela com o marido. sabia que não iríamos filmar cenas que não fossem adequadas, pois isso poderia acabar com a minha carreira. até porque o sexo ainda é um pouco tabu nos eua…

ao contrário das armas…

claro! as armas fazem parte do cinema. já o sexo é encarado de forma muito púdica. mas acho que estamos a passar por uma certa revolução sexual. pelo menos, gosto de acreditar nisso. afinal de contas, o sexo é algo tão natural e bonito…

e todos o fazem…

[risos] todos o fazem! por que razão teremos então de ter vergonha?

acha que seria capaz de se apaixonar por um homem como o marido de linda lovelace?

para dizer a verdade, sinto-me atraída por tipos nojentos… [risos] são interessantes e misteriosos.

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