A virgindade e os ares do tempo

O psicólogo Quintino Aires foi sancionado pela sua Ordem profissional por ter afirmado num programa radiofónico que ‘a virgindade aos 26 anos é um problema de saúde pública’. Claro que Quintino se quis armar em interessante, pondo em causa maneiras de encarar a vida diferentes da sua.

o dn, muito a propósito, citou outro sexólogo da rádio mais conhecido e não considerado propriamente um menino do coro assustado, o psiquiatra júlio machado vaz, a temer que ‘ser virgem passe a ser motivo de vergonha’.

curiosamente, diz-se que as escrituras, pretendendo defender as minorias mais castigadas pela crítica social, elogiaram a virgindade da mãe de jesus (que teria dado à luz por volta dos 14 anos), numa altura em que as virgens (ou seja, as que não tinham conseguido casar cedo, no que hoje é considerado adolescência) eram especialmente mal vistas. depois a igreja pretendeu dar a volta mais completa ao assunto, apontando a virgindade como uma qualidade a cultivar – havendo até santas a quem é apontado como principal mérito esse estado. muitos padres, já se viu, que chamados a sê-lo, não o conseguem. mas outros, com maior ou menor esforço, lá cumprem com a devoção.

outro sexólogo ouvido a este propósito pelo dn, vasco prazeres, esclarecendo não considerar significado nenhum de saúde para a virgindade em qualquer idade, adverte apenas para o perigo de uma virgindade prolongada se dever, não a vontade própria, mas a uma incapacidade de relacionamento – o que seria já um problema de saúde não previsto pela superficialidade brincalhona de quintino aires – que talvez queira apenas surgir como um politicamente correcto dentro dos ares do tempo (e não há pior do que isso, embora ele certamente não o perceba).