a standard&poor’s (s&p), a maior das três agências internacionais, já se pronunciou sobre portugal. na semana passada, a esperada exposição da moody’s não se concretizou – a agência justificou que a data era apenas indicativa – e aguarda-se também para breve a opinião da fitch.
no início da crise das dívidas soberanas na zona euro, esta troika de agências foi cortando os ratings de portugal à medida que os juros do país iam subindo (ver quadro). mas quando a tendência se inverteu em 2012, os avaliadores deixaram de acompanhar os mercados.
apesar de o juro da dívida pública portuguesa a 10 anos se situar hoje a níveis do pré-resgate (5%)_e de o país se ter financiado esta semana a taxas inferiores a 1%, um mínimo desde 2009, portugal mantém um rating igual ao que detinha quando os juros estavam em 15%.
na companhia da grécia e de chipre, portugal está no grupo de países da zona euro que tem uma notação no nível ‘lixo’ – o investimento em dívida portuguesa é considerado especulativo, sem retorno assegurado. isto apesar do selo de ‘bom aluno’ dado pelos credores e investidores.
divergência nas avaliações
para diogo serras lopes, do banco best, e tiago cardoso, da corretora xtb, a divergência entre mercados e ratings existe porque as agências tendem a valorizar mais os indicadores-chave da economia portuguesa – défice orçamental, dívida pública e desemprego – do que a diminuição do risco da zona euro – o factor que está a fazer diminuir os juros.
“os números portugueses não reflectem ainda nem uma capacidade de gerar superávites orçamentais primários, nem de diminuição do stock de dívida sobre o pib, dados que deverão ser essenciais para as agências justificarem subidas de rating”, lembra serras lopes.
tiago cardoso sustenta que “não são só as taxas de juro que interessam: mantemos níveis de desemprego demasiado elevados, cortes ainda prováveis na despesa e indicadores industriais com mais margem para subir. há muito caminho ainda por percorrer”. já ulisses pereira salienta que as agências perderam muita credibilidade nos últimos anos e estão hoje “a medir muito mais os seus passos e a jogar pelo seguro”.
apesar de os mercados terem ignorado nos últimos dois anos as agências, portugal necessita que o seu rating suba pelo menos para níveis de investimento. um patamar que possibilite que investidores estrangeiros de longo prazo, como fundos de pensões, possam voltar a apostar na dívida portuguesa, assegurando uma procura sustentável em futuras emissões de dívida.