Dito & Feito

Seis meses depois de ter provocado uma crise política gravíssima, que só por pouco não fez cair o Governo, levando o Presidente a colocar o cenário de eleições antecipadas e o país a quase enfrentar a inevitabilidade de um segundo resgate financeiro, Paulo Portas foi agora ao Congresso do CDS explicar que desencadeou essa crise…

a verdade é que a crise política de julho foi superada não por causa dele mas apesar dele. foram o sangue-frio político e o sentido de estado de passos coelho que o levaram a recusar de imediato a demissão de portas e a obrigá-lo a permanecer no governo. e o primeiro-ministro ainda teve, depois, que enfrentar a subsequente tentativa de belém para antecipar o calendário eleitoral. foi, por outro lado, uma parte significativa de dirigentes do cds que confrontou portas com a irresponsabilidade do seu gesto e os perigos que daí advinham para o partido, forçando-o a voltar atrás com a palavra. portas invoca, agora, o seu “sentido de missão”?! só pode estar a brincar connosco.

o país pagou caro o capricho político de portas em julho: os juros da dívida portuguesa levaram meses a recuperar a sua tendência de descida e a credibilidade política do governo português nos meios europeus e internacionais andou pelas ruas da amargura.

mas, como o que tem de ser teve muita força, o líder do cds também pagou uma factura política elevada pela imaturidade da sua conduta: ficou refém da solução de governo determinada por passos coelho, amarrado a cada uma das negociações com a troika e sem a mínima margem de manobra para qualquer novo arrufo ou distanciamento crítico no seio da coligação até às legislativas de 2015.

paulo portas e pires de lima sempre tiveram o que se costuma chamar ‘boa imprensa’. como se comprovou agora nos relatos feitos sobre o congresso do cds. mas não há oratória ou demagogia encartada que neguem as evidências: o cds e o seu líder saíram como perdedores e políticos não confiáveis da crise de julho. por muito que agora o tentem disfarçar.

jal@sol.pt