Jogo de poder e sedução no Teatro Aberto

Foi há apenas dois meses que a adaptação ao cinema da premiada peça de David Ives, Vénus de Vison, esteve nas salas portuguesas, realizada por Roman Polanski. Agora, a dramaturgia está em cena no Teatro Aberto, em Lisboa, protagonizada por Ana Guiomar e Pedro Laginha, e encenada por Marta Dias.

no palco está tomás, que prepara a adaptação ao teatro de vénus de vison (o romance de sacher-masoch que deu origem ao termo masoquismo). no final de um dia infrutífero a tentar escolher a protagonista entra-lhe no escritório o furacão vanda, actriz jovem, impetuosa, ansiosa por ficar com o papel. vai ser a relação entre os dois, em paralelo com a das personagens do romance, nas suas várias camadas de poder, sedução, atracção, submissão e domínio, que se vai acompanhar ao longo da peça. mas, diz marta dias, “isto não são só chicotes e correntes”. “quis tocar vários temas. a peça corre o risco de ter apenas uma leitura. quis fugir a isso: esta não é só uma peça feminista em que ela põe as botas, mostra as pernas e ele fica doido”.

a encenadora quis imprimir ao texto uma dimensão política. encontrou-a, diz, não só na questão da igualdade de género, mas também na questão do fingimento. “vivemos em ilusões que nos vão entretendo: vamos acreditando numa ideia de igualdade, vamos tendo esperança no futuro… este espectáculo faz-nos olhar para nós próprios e repensarmos os nossos ideais”.

numa altura em que o teatro aberto luta por manter as portas abertas, esta foi uma opção arriscada: é possível que o público, tendo visto o filme, não assista à peça. no entanto, assegura marta dias, a sua visão é bem diversa da de polanski. “fiquei desiludida. a personagem da vanda está mal explorada, pouco defendida. centrou-se no tomás. estava à espera que fosse mais complexo”. marta dias, por seu lado, deu mais destaque à personagem feminina.

rita.s.freire@sol.pt