Caminho errado

A crise fez com que se cometessem autênticos massacres financeiros em Portugal. Não me refiro só às vidas das pessoas, que sofreram mudanças drásticas, mas também ao próprio Estado, que se viu obrigado a vender uma parte do património.

o mais recente caso de tentativa de venda de património adquirido pelo estado é o das 85 obras de arte de joan miró, ex-propriedade do ex-bpn. os contribuintes foram chamados a pagar a factura do maior escândalo financeiro de que há memória no país e agora o governo quer leiloar os quadros por atacado. o valor a arrecadar da venda não excederá os 40 milhões de euros, uma ninharia, como qualquer pessoa informada saberá. é como ser proprietário da arca do tesouro e ir vendê-la a peso. além de tudo, é um desrespeito por todos nós que os comprámos, que remédio. o estado não ter capacidade para angariar receitas com a exibição das obras é uma tristeza. mas vendê-las ao desbarato é simplesmente um crime.

gata grande

há a ideia de que os donos dos animais de estimação estabelecem laços de parentalidade com os seus bichos. o gato ou o cão passam a ter ‘pais’ humanos, porque os próprios donos reproduzem um comportamento parecido ao que se tem com um filho. com bebés, no caso de gatos, ou com adolescentes, no caso de pastores alemães. a confusão surge de os animais não falarem, mas também da evidência de só humanos interpretarem acções de outros humanos. num artigo na time, a propósito do livro cat sense, do biólogo john bradshaw, que estuda o comportamento dos gatos há 30 anos, li a novidade que do ponto de vista felino os alegados pais não existem. o gato esfregar o seu corpo nas nossas pernas ou caçar um rato e trazê-lo até nós significa que nos consideram gatos como eles, mas gigantes. tudo porque, ao contrário dos cães, os gatos nunca foram totalmente domesticados. animais não são crianças. desta vez a confirmação chega dos próprios bichos.

tina e amy

deixei de ter o hábito de assistir à cerimónia de entrega dos golden globes porque sei que de manhã cedo o mais importante está no youtube. não me refiro aos vencedores, que são anunciados na hora no twitter, nem às imagens da passadeira vermelha que circulam ao segundo na internet. falo da apresentação de tina fey e amy poehler, repetentes na cerimónia. à semelhança do que aconteceu no ano passado, tina e amy fizeram uma apresentação hilariante e irrepreensível. foram muitas as piadas originais e bem pensadas, mas a que marcou a apresentação foi a observação a propósito de gravity, sobre george clooney, que preferiu arriscar a vida no espaço a ficar na mesma sala com uma mulher da sua idade. também gostei de tina fey a lembrar que o espectáculo duraria três horas, ou aquilo a que martin scorsese chama ‘primeiro acto’. o flavorwire fez o favor de recolher as aparições de tina e amy num vídeo: http://vimeo.com/84013110. voltem para o ano.

a boa série

há séries de televisão que são geniais por causa da sua qualidade de argumento e interpretação, mas também porque vão perfeitamente ao encontro das exigências e expectativas dos espectadores. há outras séries que, não sendo revolucionárias, no sentido literal da palavra, confirmam os padrões do bom entretenimento. nesta categoria, destaco the good wife. a série tem um fundo de escândalo familiar, um político infiel (chris noth) e um cenário profissional de escritório de advocacia, onde a mulher enganada (julianna margulies) retoma a sua carreira promissora. há uma história que predomina em cada temporada e outras, sobretudo os casos de tribunal, que em geral se resolvem em cada episódio. the good wife é ligeiramente vibrante, mas acima de tudo encantadora. como se fosse pouco, a quinta temporada está a ser transmitida pela fox life de segunda a quinta, o que lhe acrescenta um ritmo de telenovela que agradeço do fundo do coração.

mais uma vez

o papa francisco baptizou o filho de uma mulher solteira e a filha de um casal casado apenas pelo civil, durante uma cerimónia na capela sistina. este simples acto, fora das normas eclesiásticas, tem enorme importância na mensagem do novo papa. imagino que algum padre nalgum sítio do mundo tenha transgredido as normas. mas o mesmo acto realizado por francisco significa uma legitimação oficial de que a prioridade para a igreja católica é a tolerância e a caridade, virtudes fundamentais do cristianismo. no sermão, o papa disse às mães para darem de comer aos bebés se tivessem fome. muitos acusam o papa de não fazer mudanças no dogma, na estrutura ou mesmo na teologia vigentes. haverá maior mudança do que voltar ao âmago da mensagem evangélica? por outro lado, que sensação espantosa a de ser amamentado na capela sistina, com os olhos postos no tecto espectacular pintado por miguel ângelo. um baptismo com festa incluída para estes bebés.