Já há imobiliárias chinesas e pedreiras estão na calha

Portugal “está a estender a passadeira vermelha aos chineses ricos”, escrevia em Dezembro um jornal ligado ao Partido Comunista chinês. O artigo referia-se ao visto Gold, do qual os chineses são os maiores clientes, sobretudo através da compra de imóveis. Cada vez com mais rendimento disponível, estes investidores oriundos da classe média procuram diversificar a…

“já se criaram em portugal mais de meia dúzia de imobiliárias chinesas porque eles é que conhecem melhor o gosto dos clientes”, indica ao sol um dos vice-presidentes da câmara de comércio e indústria luso-chinesa (ccilc), ilídio serôdio.

no passado, segundo os censos, a comunidade chinesa optava por fixar-se em lisboa, sintra, vila do conde ou benavente. agora compra casas em zonas de luxo como o parque das nações, cascais ou tróia, que depois alugam. já este ano foi anunciada a venda do espaço onde opera o restaurante belcanto, gerido pelo chef josé avillez, a dois chineses. queriam o documento que lhes abre as portas do espaço shengen.

interesse cresce

com a entrada em força do capital chinês nas privatizações e o chamariz do visto gold, “todos os dias” se sente o interesse da china na economia lusa, garante o responsável. “há muito mais contactos do que no passado”.

de acordo com ilídio sêrodio, os chineses querem investir em sectores com rendimento garantido. é o caso do imobiliário ou das utilities – na electricidade compraram a edp e a ren, e na água têm veolia water portugal, que abastece vários municípios.

“não vejo um chinês vir cá comprar uma empresa em grandes dificuldades, a menos que sejam dificuldades conjunturais. estão a olhar para empresas em que todos os meses entre dinheiro, empresas do ‘pinga-pinga’, como é o caso da edp”, ilustra.

ainda assim, outras áreas estão a atrair a segunda maior economia do mundo. a indústria agro-alimentar poderá ter potencial. “já estão a olhar para o azeite e para algumas quintas de vinhos”, avança o responsável, explicando que os chineses “estão a subir na escala”. primeiro começou-se por exportar estes produtos para a china, mas o potencial de consumo está a motivar os investidores a “virem à fonte, em vez de importarem”. no ano passado, 200 empresários chineses vieram ao salão internacional do sector alimentar e bebidas, em lisboa, procurar oportunidades de negócio.

o mesmo está a acontecer na indústria dos mármores, uma das principais exportações de portugal para o gigante asiático. “já há empresas chinesas que estão cá a intermediar a compra para enviar para a china. e outras já estão a olhar para algumas pedreiras no alentejo”, indica.

o turismo é outro alvo. a fosun já manifestou interesse nesta área, até porque detém 7% dos resorts club med. “se os investidores pensarem que vão trazer grupos de chineses para a europa, vão comprar hotéis porque sabem que vão enchê-los com chineses”, justifica ilídio serôdio. “querem começar a controlar a oferta turística para o enorme fluxo de turistas chineses, ao mesmo tempo que pretendem desenvolver o turismo na china, para diversificar a estrutura da economia chinesa, ainda muito dependente da produção industrial”, nota miguel santos neves, do instituto de estudos estratégicos e internacionais.

ana.serafim@sol.pt