“já se criaram em portugal mais de meia dúzia de imobiliárias chinesas porque eles é que conhecem melhor o gosto dos clientes”, indica ao sol um dos vice-presidentes da câmara de comércio e indústria luso-chinesa (ccilc), ilídio serôdio.
no passado, segundo os censos, a comunidade chinesa optava por fixar-se em lisboa, sintra, vila do conde ou benavente. agora compra casas em zonas de luxo como o parque das nações, cascais ou tróia, que depois alugam. já este ano foi anunciada a venda do espaço onde opera o restaurante belcanto, gerido pelo chef josé avillez, a dois chineses. queriam o documento que lhes abre as portas do espaço shengen.
interesse cresce
com a entrada em força do capital chinês nas privatizações e o chamariz do visto gold, “todos os dias” se sente o interesse da china na economia lusa, garante o responsável. “há muito mais contactos do que no passado”.
de acordo com ilídio sêrodio, os chineses querem investir em sectores com rendimento garantido. é o caso do imobiliário ou das utilities – na electricidade compraram a edp e a ren, e na água têm veolia water portugal, que abastece vários municípios.
“não vejo um chinês vir cá comprar uma empresa em grandes dificuldades, a menos que sejam dificuldades conjunturais. estão a olhar para empresas em que todos os meses entre dinheiro, empresas do ‘pinga-pinga’, como é o caso da edp”, ilustra.
ainda assim, outras áreas estão a atrair a segunda maior economia do mundo. a indústria agro-alimentar poderá ter potencial. “já estão a olhar para o azeite e para algumas quintas de vinhos”, avança o responsável, explicando que os chineses “estão a subir na escala”. primeiro começou-se por exportar estes produtos para a china, mas o potencial de consumo está a motivar os investidores a “virem à fonte, em vez de importarem”. no ano passado, 200 empresários chineses vieram ao salão internacional do sector alimentar e bebidas, em lisboa, procurar oportunidades de negócio.
o mesmo está a acontecer na indústria dos mármores, uma das principais exportações de portugal para o gigante asiático. “já há empresas chinesas que estão cá a intermediar a compra para enviar para a china. e outras já estão a olhar para algumas pedreiras no alentejo”, indica.
o turismo é outro alvo. a fosun já manifestou interesse nesta área, até porque detém 7% dos resorts club med. “se os investidores pensarem que vão trazer grupos de chineses para a europa, vão comprar hotéis porque sabem que vão enchê-los com chineses”, justifica ilídio serôdio. “querem começar a controlar a oferta turística para o enorme fluxo de turistas chineses, ao mesmo tempo que pretendem desenvolver o turismo na china, para diversificar a estrutura da economia chinesa, ainda muito dependente da produção industrial”, nota miguel santos neves, do instituto de estudos estratégicos e internacionais.