Pacto de silêncio sobre rituais nas praxes

O pacto de silêncio em torno das praxes da Lusófona alarga-se aos antigos estudantes que integraram a Comissão Oficial da Praxe Académica (COPA).

 “não quero estar a alimentar polémicas”, disse ao sol um arquitecto que integrou a organização há seis anos, quando questionado sobre o tipo de praxes feitos pela copa. “o importante é que o joão gouveia esclareça tudo”, diz.

na universidade, os alunos falam sob anonimato de praxes rígidas e com muitas especificidades que levaram outros cursos, como o de veterinária, há sete anos, a distanciar-se da copa. alguns estudantes já denunciaram a existência de rituais de obediência ao dux (líder) que passaria pela entrada na água até aos joelhos dos membros do governo da copa. mas quem pertence aos cursos abrangidos por estas praxes fecha-se agora, invocando que recusa promover a especulação.

o silêncio não surpreende o psicólogo marco pinto barreiros: “há muitas vezes nestas estruturas um nível de secretismo que não é claro, nem mesmo para os restantes estudantes universitários”.

submissão preocupante

mais chocante, diz este especialista em psicologia das organizações são os relatos feitos pelas famílias dos jovens que morreram no meco, revelando que alguns viviam para a comissão de praxes, fazendo relatórios e estando em permanente contacto com o dux. “centravam parte da sua vida nesta comissão, que não é uma estrutura saudável. é rígida, quase monotaísta”, defende, acrescentando que alguns estudantes parecem olhar para o dux como alguém que lhes traz sabedoria. “é preocupante”.

o especialista acrescenta que estas estruturas de praxes “implicam rituais de submissão e obediência a bem da comunidade”, e têm códigos internos rígidos, aos quais os estudantes aderem porque pertencer a uma comissão de praxes lhes traz estatuto e popularidade, envolvendo-os na vida universitária. o problema é que “muitas vezes confundem respeito com obediência”.

os pais das vítimas são unânimes em dizer que desconheciam o que se passava na copa e nunca se aperceberam que as reuniões envolvessem praxes entre eles ou rituais. “na sexta-feira, o pedro estava mais nervoso do que o habitual, mas atribuí isso ao facto de estar a preparar as praxes e a trabalhar ao mesmo tempo” – explica fátima negrão, mãe do jovem de 24 anos licenciado em gestão, que fazia planos para um mestrado.

já no caso de joana barroso, de 22, foi um sms que deixou a família em alerta. numa mensagem a um colega, a estudante de mestrado de serviço social escreveu: “vamos ver se sobrevivo… lol”. os pais dizem que isso revela desconfiança sobre o que se iria passar naquele fim-de-semana.

são vários os casos de praxes violentas que chegaram a tribunal. a universidade lusíada foi condenada, no ano passado, a pagar uma indemnização pelas práticas violentas no seio da tuna académica, que levaram à morte de diogo, um aluno do quarto ano, em 2001. e em 2008 dois tribunais condenaram membros da comissão de praxes da escola superior agrária de santarém e o instituto piaget a indemnizar alunos vítimas de praxes violentas.

as queixas poderão ser muitas mais, mas não há dados oficiais: nem a procuradoria-geral da república, nem a polícia judiciária têm uma estatística desagregada destes casos.

joana.f.costa@sol.pt