Turismo na rota da cultura

Esta viagem começa em diligência, quando, em 1862, os antepassados da família Pinto Lopes criaram uma empresa de transporte de passageiros. O negócio atravessou gerações, até chegar à década de 70 do século XX.

em 1974, joaquim pinto lopes lança-se na organização de viagens turísticas. num autocarro, rumo à europa, parte com outras 16 pessoas – «mais amigos e familiares do que clientes propriamente» – munidas de espírito aventureiro, tendas, sacos-cama e farnéis. era o ponto de partida da pinto lopes viagens, conta rui pinto lopes, director-geral e filho do fundador. «naquela altura não havia ar condicionado nem bancos reclináveis. as bagagens iam no tejadilho. numa ponte em espanha, metade das malas ficaram logo para trás», recorda.

na época, à saída da ditadura, quando o poder de compra dos portugueses era muito baixo, eram sobretudo professores, advogados, juízes e médicos quem participava nos passeios desta agência familiar. as viagens culturais em grupo pelo mundo passaram a ser o passaporte que diferenciava a pinto lopes. em meados da década de 80, 30 grupos de turistas portugueses viajaram através da agência.

«em 87, em portugal, não sei que outras empresas fariam viagens em grupo para a roménia ou para a turquia. nós fazíamos. de autocarro, o que hoje seria quase impensável. temos muitos clientes que começaram connosco assim e hoje já vem a segunda e a terceira geração», conta o director-geral.

«o meu pai começou a fazer viagens pela europa de autocarro, sempre culturais, em campismo. a base desta empresa começou aí, há 40 anos. depois houve uma evolução natural. passámos para a fase de alojamento em hotéis. com a liberalização do espaço aéreo, começámos a introduzir os aviões».

superar expectativas

nos anos 90, na euforia da adesão de portugal à então cee, a agência avança para novos mundos. «fomos crescendo paulatinamente todos os anos. não tivemos um crescimento exagerado, que nos deixasse desconfortáveis quanto à capacidade de resposta», explica o empresário.

além da sede no porto, a agência tem, desde 2012, um balcão em lisboa, aberto em plena crise. emprega 30 pessoas e factura oito milhões de euros. o ano passado – e depois de uma ligeira redução de 3% em 2012, o único em que houve quebra – foi de crescimento, «superando todas as expectativas».

«se em 1974 tínhamos um grupo, em 2013 tivemos 300. se em 1974 transportámos 17 pessoas, hoje viajam com a pinto lopes cerca de 9 mil passageiros».

para enfrentar a conjuntura adversa, a empresa apostou em vários nichos de mercado. no ano passado inovou com as viagens de autor. são pacotes com tudo incluído, em que, com base nas suas obras, autores criam um percurso do qual serão também os guias. os grupos que participam são bastante pequenos e o ambiente é intimista.

a estreia foi com gonçalo cadilhe, que conduziu cerca de 20 pessoas a itália, num roteiro baseado no seu livro um lugar dentro de nós. «esgotou numa semana. acrescentámos segunda data, que encheu em cinco dias, e ainda ficámos com lista de espera», realça rui pinto lopes. peregrinação serviu de roteiro a uma expedição à birmânia, laos e cambodja liderada pelo autor, que também assinou idas à namíbia.

estreia na coreia do norte

cabo verde e a índia inspiraram a escritora raquel ochoa, que também participou na iniciativa. e josé luís peixoto arriscou voltar à coreia do norte, desta vez levando um grupo de turistas portugueses. «ao contrário do que se pensava, que josé luís peixoto não entraria na coreia do norte depois de ter publicado um livro, ou que não sairia, ele foi e veio. até foi convidado duas vezes para dar aulas em inglês sobre portugal numa biblioteca em piongyang e numa escola secundária», relata o director da agência, que foi a primeira portuguesa a entrar no país asiático.

este ano, fernando alvim junta-se às viagens de autor, com uma visita ao castelo do drácula, na roménia, no halloween.

com uma programação que abrange mais de cem países, a diversificação faz parte da estratégia da pinto lopes viagens. a sua programação turística inclui, além dos destinos habituais, outros mais invulgares: islândia, país em que é especialista, arménia, georgia, irão, uzbequistão, azerbaijão ou butão. moldávia ou taiwan são novidades deste ano.

«o leque de clientes aumentou muito. alguns já correram mundo e querem novos destinos. têm um perfil muito evoluído culturalmente, com um poder de compra acima da média. não se importam de não fazer praia, mas importam-se se não conhecerem um novo destino cultural por ano», descreve o empresário. e acrescenta que, além de fidelizar, esta é uma forma de garantir a satisfação dos clientes. é também por isso que os administradores da empresa, incluindo rui pinto lopes, são muitas vezes os guias das viagens que vendem, para haver contacto directo e avaliar a qualidade do serviço que prestam.

ana.serafim@sol.pt