Liberdade de escolha

O ministro da Economia, António Pires de Lima, afirmou que “uma boa parte da investigação é financiada por dinheiros públicos e não chega à economia real. Não chega a transformar o conhecimento em resultados concretos que depois beneficiem a sociedade como um todo”.

 

não faço ideia do que o ministro está a falar. a associação que faz entre o financiamento à investigação e os ‘resultados concretos’ nas empresas é uma falsa relação. imaginemos uma aluna que escolhe fazer um doutoramento em aristóteles. a fct lá a olha de lado, sabemos disto. segundo a tese de pires de lima, esta pessoa não devia maçar o estado com pedidos absurdos para estudar um filósofo grego antigo. para quê? que ‘resultados concretos’ pode ter este conhecimento numa empresa? imagino uma série de ‘resultados concretos’, por acaso, embora nenhuns que se traduzam na linguagem empresarial do ministro. aproveito apenas para lembrar que as empresas são constituídas por pessoas.

tempos malcriados

marcelo rebelo de sousa, na tvi, a par com a quadratura do círculo, na sic notícias e constança cunha e sá, na tvi 24, é dos poucos comentadores que ouço no seu espaço de opinião televisivo. é inteligente, perspicaz, habilidoso e popular. há dias, vasco pulido valente escrevia no público que marcelo perderia a graça se se candidatasse à presidência. com todo o respeito, não acho. marcelo seria um excelente presidente da república, que traria leveza ao cargo, além de desenvoltura de modos, diplomacia nas palavras, retórica no seu melhor. seria uma vitória para muitos que anseiam pelo regresso do discurso. o modo como passos coelho tratou de colocar na berlinda aquele que poderia ser um trunfo importante do psd na corrida a belém é de uma violência surpreendente. traçar o perfil do candidato que não apoia, fazendo uso de uma percepção insultuosa que existe sobre marcelo, é mais do que uma jogada política hostil. é uma tentativa de humilhação.

conversão à força

o deputado pelo partido para a independência do reino unido (ukip), david silvester, escreveu há dias uma carta a acusar o primeiro-ministro david cameron de ter causado a ira divina com a aprovação da lei do casamento entre homossexuais. deus terá ficado tão insatisfeito com o reino unido que lançou uma chuvada sobre o território. silvester tinha avisado, mas estranhamente ninguém lhe tinha dado ouvidos. o partido demarcou-se da posição, mas mandou sossegar o deputado. silvester não quis saber e resolveu dizer o resto, nomeadamente que a homossexualidade é uma “doença espiritual” que “tem cura”. a tese extremista não é nova e, felizmente, não é aceite pela maioria das pessoas. provavelmente porque foi um dia respeitada, com as consequências criminosas que sabemos. pergunto arriscadamente aos extremistas católicos e protestantes se concordam com a conversão à força ao islão. talvez assim a ideia nefasta da ‘doença espiritual’ morra de vez.

aulas de inglês

há dias assistimos a uma cena insólita protagonizada por vítor pereira, antigo treinador do fc porto, que presentemente treina a equipa do al-ahli, na arábia saudita. numa conferência de imprensa, vítor pereira teve um ataque de fúria com um homem sentado ao seu lado que não era o tradutor. fiquei sem perceber quem seria exactamente aquela pessoa, mas a sua função ali era a de controlar os temas a debater naquela sessão. o treinador deveria concentrar a sua intervenção nos aspectos técnicos do jogo e não usar adjectivos indesejados. é claro que vítor pereira, ah, homem de sangue lusitano na guelra, começou aos gritos por acusar um jogador de ser um mau profissional. já vinha nervoso e mais ficou com a tentativa de imposição dos limites à liberdade de expressão num país que não a tem. quanto mais vítor pereira se tentava explicar, mais se enervava. ajudou o fraco conhecimento da língua inglesa. se soubesse bem inglês, o ataque de fúria tinha corrido melhor.

daqui ninguém me tira

o affaire do solteirão françois hollande com a actriz julie gayet, que visitava de motoreta e segurança, enquanto a namorada valérie trierweiler cosia meias durante a noite, apanhou o mundo de surpresa. com aquela cara? hollande, o neo-garanhão, tem o interesse que a sua actividade política lhe conferiu ao longo de anos. são questões que contam para algumas mulheres. isto além dos mistérios da atracção entre os sexos, perfeitamente respeitáveis quando se trata de adultos. depois da retirada esperta de trierweiler para o hospital, o ex-marido de gayet afirmou aos jornais que a sua ex-mulher era a verdadeira e legítima mulher de hollande e que a relação com trierweiler já terminara há muito. não há cavalheirismo sem lealdade, por isso tiro o meu chapéu barbour a este homem decente. quem discorda desta teoria é valérie trierweiler, que entretanto teve alta ou que se deu a si própria a alta de que precisava para se ir amarrar à porta do eliseu.