Jovens esperavam mais cinco pessoas na casa do Meco

São cada vez mais fortes os indícios de que deverá ter estado mais alguém no fim-de-semana de 15 de Dezembro, na praia do Meco, onde seis jovens perderam a vida, levados pelas ondas.

Uma reportagem da TVI revelou esta quarta-feira que a casa alugada pelos estudantes da Lusófona estava preparada para 12 pessoas e a lista de compras do supermercado, feitas na véspera do encontro por uma das alunas falecidas, Carina Sanchez, também contava com elas. O único sobrevivente, João Miguel Gouveia, líder do grupo, ainda não foi ouvido pela Polícia Judiciária (PJ), mas deverá ser confrontado com estes dados.

Documentos divulgados pela estação de Queluz comprovam que eram esperados mais cinco membros da Comissão Oficial da Praxe Académica (COPA). Carina Sanchez comprou carne a contar com 12 pessoas e bebidas alcoólicas em grande quantidade: 20 litros de vinho, três garrafas de amêndoa amarga e uma de whisky. A jovem deixou escrito que cada membro devia trazer os seus talheres, sendo necessário levarem mais “cinco para os exm.ºs” esperados no Meco.

Também a pessoa responsável pela limpeza da casa tem garantido que tudo estava preparado para receber 12 pessoas. O SOL sabe que houve três representantes de cursos que faltaram ao encontro, mas geralmente os antigos dux também participavam nestes fins-de-semana. Na COPA, é regra ninguém praxar sozinho – o que é explicado como forma de prevenir abusos, garantindo-se que há testemunhas.

Rituais de sociedades secretas

As famílias das vítimas – que já começaram a ser ouvidas pela Polícia Judiciária – têm cada vez menos dúvidas de que os jovens iam ser submetidos na praia a um ritual para subirem na hierarquia da comissão.

“Ao que sabemos, a noite de sábado seria o ponto alto do encontro, a última prova”, disse ao SOL Fátima Negrão, mãe de outra das vítimas (Pedro, de 24 anos, representante do curso de Gestão). Por isso, não ficou surpreendida com a descrição dos rituais que fazem parte do regulamento da COPA, segundo avançou a TVI.

Esse ritual, inspirado numa obra de Fernando Pessoa, A Hora do Diabo, deve ser feito na praia, em noites de lua cheia, sempre após uma sexta-feira 13. Os membros da direcção da COPA, de olhos vendados e de costas para o mar, têm de responder a perguntas do dux. De cada vez que falham, têm de recuar, em direcção ao mar. Neste ritual é suposto participarem antigos dux.

“Houve provas do género na serra da Arrábida, onde os estudantes foram largados sozinhos e sem telemóvel”, diz Fátima Negrão, sobre outro fim-de-semana da COPA, em 2012.

Os pais, que vão constituir-se assistentes no inquérito criminal, criaram um e-mail para receber denúncias (tragedia.meco@gmail.pt). Já receberam mais de 300 mensagens, denunciando situações ou dando informações “da maior relevância” para a investigação. “Estamos a fazer uma selecção e todos os que forem importantes serão encaminhados para as autoridades” – explica ao SOL António Soares, pai de outra das vítimas, Catarina, de 22 anos.