Olivier Camu, director internacional e vice-presidente do departamento de Arte Moderna e Impressionista, disse que esta é a melhor estratégia para valorizar a colecção, cujas receitas vão reverter para o Estado português, proprietário dos quadros desde a nacionalização do antigo Banco Português de Negócios (BPN), em 2008.
“É possível ver Mirós em leilão com regularidade. Neste caso, as 85 obras causam um grande estrondo no mercado. Chamou a atenção de muitas pessoas por causa disso. Se tivesse sido repartido em pequenas partes perder-se-ia a magia da história e o fôlego da colecção”, afirmou.
O perito está também convencido de que o número de obras em leilão criará um efeito de “embalo” para as obras menos valiosas e conhecidas: “Algumas pessoas que não conseguirem comprar as mais caras farão consequentemente licitações nas mais pequenas”.
A estrela do lote é “Femmes et oiseaux” (“Mulheres e Pássaros”), de 1968, um óleo sobre tela avaliado entre quatro e sete milhões de libras (cerca de 4,8 milhões a 8,5 milhões de euros), no qual se observam as influências que Miró trouxe de um período que passou no Japão.
Olivier Camu valoriza, no entanto, igualmente, “obras menos importantes, que se destinarão a colecções particulares de pessoas com menos posses, que são as obras de papel dos anos 1960 e 1970, muito minimalistas de caligrafia asiática”. “Estão [avaliadas em] 10 mil libras (12,2 mil euros). Muito acessíveis.”
Representativas de sete décadas da carreira de Joan Miró (1893-1983), o conjunto é considerado pela Christie’s uma das mais extensas ofertas de trabalhos do artista a ir em leilão em várias décadas.
“Estamos a receber muito interesse de coleccionadores de todo o mundo”, fruto da campanha que a leiloeira está a fazer, com material promocional em línguas como cirílico, árabe ou mandarim, revelou o director internacional da Christie’s à Lusa.
Camu já recebeu manifestações de interesse da Ásia, nomeadamente de investidores japoneses – “porque parte desta colecção esteve no Japão a certa altura”, disse à Lusa -, assim como dos Estados Unidos e do leste da Europa, em particular de russos que vivem em Londres ou que vêm aos leilões de arte da capital britânica, em Fevereiro.
A leiloeira mantém a expectativa de encaixar acima dos 30 milhões de libras (36 milhões de euros), um valor que o responsável da Christie’s conta ultrapassar, embora não arrisque quanto espera alcançar.
“Não é muito baixo, mas é suposto ser um pouco conservador para atrair licitações. Há uma expressão comum usada quando se vai a leilão: ‘não se força, puxa-se’”, justifica.
As obras foram expostas na Christie’s Mayfair em Londres, um espaço galeria da leiloeira, onde a entrada é aberta ao público e gratuita, antes de serem levadas para as instalações da Christie’s.
A venda será concentrada em dois dias, 04 e 05 de Fevereiro, mas distribuída por três leilões: A Arte do Surreal, Arte Moderna e Impressionismo e Obras em Papel de Arte Moderna e Impressionismo.
Lusa/SOL