Yonest: Uma receita com sete mil anos

Falar de iogurtes é falar da Grécia Antiga, em leite em estado puro, sem corantes nem conservantes. Filipe Botto e Francisco Vilhena pegaram na ideia e tornaram-na num negócio nacional, com os olhos postos na internacionalização. A primeira paragem é Lisboa mas esperam chegar a Angola até ao final do ano.

Podíamos dizer que Filipe Botto e Francisco Vilhena adoram iogurtes e que não encontravam nenhum no mercado que satisfizesse o seu apurado paladar, mas tratando-se de dois jovens empresários com experiências no mundo da gestão, a história não se passou exactamente assim. «É verdade que fomos para a cozinha fazer experiências e percebemos que o iogurte caseiro não tinha nada a ver com aquele que compramos nos supermercados. Mas depois foi preciso ir à procura de uma experiência para o consumidor. E a experiência foi a do acabado de fazer e à moda antiga, grega, como se fazia há sete mil anos».

Traduzindo por miúdos, significa que não leva natas, nem açúcar, nem corantes, nem conservantes e mesmo assim, garantem, estamos diante um iogurte espesso e cheio de sabor. Para o conseguirem, tiram o soro do leite (cada dois litros de leite dá apenas um litro de iogurte) e no final todos os componentes ficam mais concentrados e dão um produto natural e mais denso, explicam.

Daí para um iogurte gourmet, artesanal, nutricionalmente equilibrado e que pudesse fazer parte dos hábitos dos portugueses a qualquer hora do dia foi um pulo a que não foi indiferente o investimento de 100 mil euros do QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional), além do convite da Câmara Municipal de Lisboa e do IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação) para a Yonest integrar a comunidade de empresas Start Up Lisboa. Mas antes de conseguirem pôr o projecto de pé, os dois jovens gestores mantiveram os seus empregos durante um ano, dedicando-se à empresa comum apenas em regime de part-time. O salto deu-se apenas depois de porem em prática o plano de negócios que implicou, logo para começar, a Yonest Milk House – ou laboratório – de onde todos os dias saem os seus iogurtes e que tem a particularidade de receber o leite do dia e ter as colónias de lactobacilos isoladas – desenvolvidas pelo Centro de Microbiologia da Universidade Católica do Porto – o que faz com que não precisem de nenhum elemento industrializado para darem corpo ao seu produto: «Daí Yonest, uma mistura de yogurt com honest [honesto]».

Finalmente, há apenas um mês e meio apostaram tudo em chamar a atenção dos clientes: «Temos um ponto de venda ambulante, o Yogurtman — que na verdade está para já fixo no Saldanha, em Lisboa, mas há-de rumar a festivais e concertos – onde não só se vende o produto como se dá a conhecer a empresa por outra via que não a habitual, para fazer um buzz à volta da marca», diz Francisco. Aqui são vendidos os iogurtes em doses individuais (2 euros) ou em boiões de vidro de 500 gramas (5 euros), em duas modalidades: magro (com 47 calorias por 100 gramas) ou integral (com 93 calorias por 100 gramas), «em termos de gordura tem menos 40% em comparação com os industriais», adianta Filipe. Mas no veículo Yonest não há apenas iogurte, há também creme de limão, doce de manga com maracujá, maçã assada à portuguesa e cereais para serem misturadas ao iogurte no momento do consumo. Mais uma vez, Filipe e Francisco garantem que nenhuma destas receitas tem corantes, conservantes ou açúcar.

Apesar do negócio estar a correr bem, os olhos da Yonest sempre tiveram postos no futuro e há novidades prontas a sair da cartola. Até ao final do mês vão ter os seus produtos à venda em supermercados gourmet e em espaços de saúde, primeiro em Lisboa e depois pelo país. Para breve está também prevista uma parceria com um conhecido chefe que irá criar uma sobremesa com base na sua matéria-prima, e finalmente os dois empresários querem apostar na internacionalização, com uma experiência em Angola. E até nem lhes falta o amém dos nutricionistas: «A Ágata Roquette experimentou o nosso produto e usou a palavra perfeito quatro vezes: ‘cremosidade perfeita, sabor perfeito, estrutura nutricional perfeita, por isso perfeito para os meus doentes! E isso também é perfeito para nós…».

patricia.cintra@sol.pt