Sabe-se que Guterres e Barroso só decidirão daqui a um ano, no início de 2015 – depois de avaliarem a evolução da economia do país no pós-troika, as sondagens e etc. – se irão ou não ser candidatos a Belém. Apesar de ambos fazerem constar, através dos seus círculos de influência, que estão muito distanciados e desinteressados de tal objectivo.
Sabe-se, por outro lado que, se Guterres quiser passar de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados para Presidente de Portugal, Costa não se atravessará no seu caminho. E que, se Barroso melhorar as sondagens e decidir trocar a presidência da Comissão Europeia pela Presidência da República, Rio não terá quaisquer veleidades de avançar.
Mas o facto é que, ainda assim, há uma razoável probabilidade de Guterres e Barroso se colocarem de fora. Como Marcelo. O que provocaria a maior desgraduação política das presidenciais em 40 anos de democracia.
A eleição presidencial em Portugal tem sido uma espécie de consagração de carreira de políticos com um vasto e reconhecido currículo. Mário Soares fora um destacado opositor da ditadura, a principal figura da vitória da democracia sobre os totalitarismos de esquerda, fundador e líder do PS, várias vezes primeiro-ministro. Jorge Sampaio fora a face da resistência estudantil contra a ditadura na crise de 1962, líder do PS e presidente da Câmara de Lisboa. Cavaco Silva fora líder do PSD e primeiro-ministro ao longo de uma década de desenvolvimento do país.
Já António Costa e Rui Rio nunca foram primeiros-ministros ou, sequer, líderes partidários. Nunca foram postos à prova nesses cargos de elevado desgaste de popularidade, têm estado preservados em funções secundárias. De Rio mal se conhece um pensamento político estruturado e diferenciado. De Costa sabe-se que apoiou a triste governação de Sócrates até ao último minuto.
Há, pois, o sério risco de um preocupante downgrade político nas presidenciais de 2016.