As aventuras marítimas de Kikas começaram cedo. Aos seis anos, com a ajuda do pai, conseguiu pôr-se em pé numa prancha de bodyboard e aos sete começou a surfar na ‘sua praia’. “A primeira onda que apanhei foi no Guincho. O meu pai vinha sempre surfar comigo e começou a empurrar-me, a levar-me lá para fora porque eu ainda não tinha força nos braços”. Foi também nesta praia de Cascais que participou nos primeiros campeonatos da modalidade, ainda com a ajuda do progenitor.¬ Ficou em último. Mas a conquista do título de campeão nacional de sub-21, aos 14 anos, deu força à possibilidade de uma carreira no mundo do surf. “O sonho vem desde pequeno, mas acho que foi aí que tanto eu como os meus pais acreditámos que era possível, que havia ali mais qualquer coisa”.
O investimento na sua carreira tinha começado pouco tempo antes. Desde os 12 anos que Frederico e a sua família iam um mês para o Havai e outro para Austrália, pra que Kikas pudesse ter aulas de surf com um treinador experiente e assim evoluir na modalidade. Temporadas que eram encaradas pelo jovem surfista como um trabalho. “Os meus pais sempre disseram que me ajudavam no que fosse preciso desde que encarasse isso com disciplina, respeito e dedicação”. Dessas façanhas do outro lado dos oceanos, Frederico recorda um momento marcante: a queda que deu de uma onda no Havai, no dia em que comemorava 14 anos. Valeu-lhe 15 pontos na cabeça e outros tantos nas costas.
Entretanto, Frederico continuou sempre a fazer uma vida de estudante relativamente normal – com tardes inteiras passadas dentro de água e noites de estudo em casa com a ajuda da mãe – até ao final do 12º ano, quando tomou a decisão de se focar totalmente no surf.
Hoje o dia-a-dia de Kikas em Portugal consiste em treinos de surf bidiários e uma ida ao ginásio. Grande parte do seu ano, todavia, é passado no estrangeiro. “O meu treinador e eu organizamos o ano consoante os campeonatos e depois viajamos, para [participar em] campeonatos, para treinar ou para fotografar e fazer filmagens para usar em clips. É uma maneira de promover a minha carreira e mostrar que não nos limitamos a competir, que também gostamos de surfar e que fazemos free surf”.
Estas viagens são encaradas com naturalidade, uma vez que os treinos noutros países permitem a Kikas um aperfeiçoamento que não seria possível caso não saísse de Portugal. “Aqui temos ondas óptimas mas em Portugal ainda não temos muitos bons surfistas. Por exemplo, eu vou a qualquer praia na Austrália, entro na água e tenho surfistas ao mesmo nível, que puxam muito mais por mim. Aqui, às vezes, durante uma semana posso estar em todas as praias e se calhar sou o melhor surfista dentro de água”.
Frederico descreve 2013 como o seu “melhor ano” de sempre: entrou no top 100 do ranking mundial, foi campeão nacional e bateu o onze vezes campeão do mundo Kelly Slater. Um feito que deixou o surfista português “nas nuvens”. “Apanhámos os dois uma onda e ele deu-me os parabéns e ficou por aí, não falámos mais. Acho que ficou um bocado chateado porque tinha o título de campeão do mundo nas mãos”.
O ano do surfista terminou ‘em beleza’ com a conquista do 4.º lugar no Triple Crown e do título de ‘Rookie of the Year’, ascendendo ao 58.º lugar no ranking da ASP. “Tinha objectivos mais baixos. Era a minha primeira vez a competir na Triple Crown e não me queria mentalizar para algo muito grande que depois pudesse não se concretizar”.
Frederico Morais é o segundo surfista português coroado Rookie of the Year. Antes dele, o título foi conquistado pelo hoje veterano Tiago Pires, também conhecido por Saca, para quem Kikas olha como um “irmão mais velho”. O primeiro encontro entre os dois deu-se numa praia na Figueira da Foz, quando Frederico tinha apenas sete anos, e a amizade cimentou-se em parte devido a uma lesão de Tiago Pires. “O meu pai é fisioterapeuta e uma vez o Saca magoou-se e foi ao consultório do meu pai. A partir daí, levou-me a surfar e fomos criando esta relação que ainda hoje temos. Costumamos surfar imenso juntos e agora que estou no top 100, vou ter oportunidade de viajar muito mais com ele e de irmos a campeonatos juntos”.
Também companheiro de viagem é o surfista Vasco Ribeiro, outra promessa do surf nacional, mas Frederico garante que ambos sabem separar as águas no que toca às competições e à amizade que os une. “Sabemos que estamos lá para o mesmo objectivo e apoiamo-nos mutuamente. Se houver algum stress é dentro de água, porque cá fora somos amigos. Este é o nosso sonho e não podemos dá-lo de mão beijada aos outros”.
Quanto a planos para o futuro, Kikas prefere pensar apenas no ano que ainda agora começou. No próximo dia 30 está de partida para a Austrália e ainda está a equacionar uma ida à Indonésia. Por enquanto, o surf preenche-lhe os horizontes. “Quando estou no mar sinto-me em paz, completamente. Parece que estou noutra vida, sinto-me em casa”.