Joga pela euforia mas também pela evasão e para passar o tempo. É assim que o psicoterapeuta Pedro Hubert caracteriza o jogador típico*. Segundo o coordenador do Instituto do Apoio ao Jogador (IAJ), a natureza do jogo patológico é semelhante à que caracteriza as dependências com substâncias. “Os circuitos neuronais que estão activos quando um adicto ao jogo está a jogar são exactamente os mesmos que são desencadeados num toxicodependente quando ele está a consumir cocaína”.
De acordo com a última edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, livro que serve de referência a muitos psiquiatras, a ideação suicida afecta metade dos jogadores em tratamento. Em Portugal, a percentagem é de quase 30% nos jogadores patológicos offline, apurou Pedro Hubert.
Segundo um estudo realizado pela Universidade Católica Portuguesa em 2008, estima-se que por cá mais de 16 mil pessoas sejam dependentes de jogos a dinheiro e outras 400 mil estejam em situação de risco. Henrique Lopes, coordenador do trabalho e professor e investigador da Universidade Católica Portuguesa, defende que estes números se mantêm actuais e com um “rigor de 95 a 99 por cento”.
*Perfil do jogador patológico offline em Portugal: Homem, 40 anos. Relação estável e com filhos. Empregado; gestor, empresário ou proveniente de áreas intelectuais e científicas. Joga muitas horas, de modo solitário. Joga pela euforia, como forma de evasão e para passar o tempo. É atraído pela possibilidade de ganhar dinheiro e também pelo divertimento. Joga maioritariamente no Euromilhões, em máquinas e cartas no casino.Tem uma relação estável com a mãe. Elevados índices de stresse e ideação suicida; ansiedade e depressão. Consumo de tabaco problemático.
Conheça os casos:
Estudante, 22 anos: ‘Se não fossem os meus amigos, ia perder tudo. Estava cego com a adrenalina’
Técnica superior, 65 anos: ‘Vestia qualquer coisa por cima do pijama e ia jogar o resto da noite’
Jurista, 39 anos: ‘Para sobreviver, eu precisava de ir ao casino’
Reformado (antigo quadro de topo de uma multinacional), 72 anos: ‘Cheguei a ir para o casino vestido de uma certa maneira porque achava que só assim ganharia’
