Outra coisa não seria de esperar – embora sim, de desejar. Com o actual presidente, Alberto da Ponte, sempre a navegar segundo as instruções governamentais, ainda por cima nomeado por um ex-ministro que nem sequer tem as qualificações democráticas e académicas de Maduro, e sobrevivendo-lhe, arejando o dinheiro dos contribuintes para despedir quem sai do guião governamental – nenhuma boa expectativa existe, de facto.
Mas há uma coisa curiosa a reter: Alberto da Ponte, mesmo sem perceber muito sobre RTP e democracia, achando que tudo é gerir uma fábrica de cervejas, defende um aspecto em que estou de acordo com ele: a RTP tem de lutar por audiências.
A ideia de que o serviço público só deve debruçar-se sobre o que os privados não querem é, para mim, totalmente absurda. O serviço público deve seguir um gosto mais sofisticado (aqui não entra a democracia nem a chinela, que podem muito bem sustentar os privados), que puxe os outros para cima. É essa a tradição das televisões europeias, onde o serviço público sempre foi essencial.
Mas também me pareceria absurdo, noutros sectores, o serviço público funcionar só onde não queiram os privados: por exemplo: nos transportes; mais concretamente: nos transportes ferroviários; ou rodoviários: as linhas rentáveis seriam privadas, e as não rentáveis públicas. Nem as empresas se aguentariam, nem faria sentido. Precisamos sempre de um serviço público, que sirva cidadãos e populações, e puxe pelo privado. E já não falo dos casos especiais da Saúde e Educação, em que os novos liberais têm uma ideia de simplesmente transferirem de uma maneira muito pouco liberal para os privados os recursos dos contribuintes – deixando-os sem serviços públicos.